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27/02/2024 às 08h00min - Atualizada em 27/02/2024 às 08h00min

A Cargill em Uberlândia

ANTÔNIO PEREIRA
O diretor da Merenda Escolar de Minas Gerais ligou para o prefeito Zaire Rezende pedindo-lhe que entrasse em contato com a ABC-Inco para uma compra de óleo comestível. Era uma necessidade urgente. Zaire passou o problema para o secretário Olavo Vieira que entrou em contato com a firma que só podia atender o Estado dali a seis meses. Havia grande demanda. Teria que atender a necessidade fora do Estado, o que não interessava ao governo. A própria ABC passou para o secretário uma relação de empresas de fora do Estado.

Vieira iniciou contatos e chegou à Cargill atendido pelo dr. Sérgio Barroso. Barroso pediu prazo de dois meses que Vieira aceitou. A partir desse contato as conversas entre os dois se amiudaram. A Cargill preparava-se para a instalação de uma unidade em Campo Grande, MS. Vieira tentou trazer outra unidade para Uberlândia e informou ao dr. Barroso as vantagens que o Município e o Estado ofereciam. Mas Campo Grande dava a área e Uberlândia, não. Barroso descartou a possibilidade. Vieira ameaçou-o:

- Você vai perder seu emprego. Vou demonstrar para a sua diretoria que você não considerou que uma possível indústria processadora de milho e soja instalada em Campo Grande não venderá um quilo do seu produto, para o mercado interno ou externo, que não transite por Uberlândia ou proximidades. Como de Campo Grande a Uberlândia são oitocentos e quinze quilômetros, a empresa gastará em frete o valor que Minas Gerais cobra pela infraestrutura existente na área que poderia ser ocupada pela Cargill. Este frete será contabilizado como prejuízo causado pelo dr. Barroso.

Barroso respondeu-lhe com um palavrão, mas a unidade de processamento de grãos, veio. 

A gestão seguinte foi de Virgílio Galassi que tinha um jeito simples de resolver os problemas do município.

Era secretário de Indústria, Comércio e Turismo o empresário Rubens Spirandelli que, depois, foi presidente do INDI.

O Distrito Industrial de Uberlândia já estava implantado, funcionando regularmente e recebendo novas empresas. Já se encontrava instalada e em plena atividade, a unidade da Cargill que pretendia instalar uma segunda para o processamento de milho.

Os diretores da empresa procuraram o secretário Spirandelli. O interesse deles era fazer o processamento aqui mesmo, mas precisavam de 600mm de água. Spirandelli assustou-se: o consumo total do Distrito Industrial era de 600mm, não sobrava uma gota. Como dobrar isso da noite para o dia? A Cargill estava interessada na expansão com urgência. Se Uberlândia não lhe desse infraestrutura iria para outra cidade. Uberlândia não podia perder esse investimento. Spirandelli resolveu levar o problema ao prefeito. Marcou audiência e levou-lhe os diretores da empresa.

No gabinete eles foram enfáticos:

- Precisamos de 600mm de água, se não for possível vamos para Mato Grosso.

Virgílio, no seu jeito calmo de resolver as coisas, perguntou-lhes:

- Vocês pretendem inaugurar quando essa unidade?

- Daqui a dois anos.

- Podem começar a construção.

Spirandelli assustou-se de novo. Quando os homens se foram ele perguntou para o prefeito:

- Temos recursos orçamentários para bancar um investimento dessa ordem? Dobrar o fornecimento de água para o Distrito Industrial?

Virgílio explicou:

- Temos rubrica orçamentária, mas não dispomos dos recursos necessários no momento. Não sei como, mas tenho a certeza de que vou arranjar. Vamos lembrar bastante deste momento daqui a dois anos.

O que ele queria dizer é que daqui a dois anos, o retorno em benefícios diretos e indiretos, tributos, empregos etc justificaria e muito o investimento.

Chamou o José Pereira Espíndola, o homem da água, e mandou que resolvesse o problema do abastecimento. O Espíndola desviou o ribeirão da Estiva para a casa de máquinas para ajudar no funcionamento das turbinas, dobrou a capacidade dos filtros e da adutora para 930mm e jogou isso tudo num elevado do bairro Custódio Pereira. Daí, até o Distrito Industrial pôs uma nova tubulação com 600mm. Toda a tubulação, a custo reduzido, foi construída na Fábrica de Tubos do DMAE. O que sobrou ficou para o bairro.

Quando foi em 1992, Spirandelli já no INDI, a Cargill inaugurou sua segunda unidade com 600mm de água na porta. O DI passava a ter 1.200mm à disposição.



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