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03/02/2024 às 08h00min - Atualizada em 03/02/2024 às 08h00min

O que temos além de mais uma dose de dopamina?

SE MANCA!, por Igor Castanheira

SE MANCA!, por Igor Castanheira

O jornalista Igor Castanheira traz seu olhar sobre temas relacionados a inclusão e acessibilidade.

IGOR CASTANHEIRA
O futuro nunca é como era antigamente, o passado muitas vezes não é como a gente conta e o presente geralmente não é o que nós queremos. Com uma preocupação excessiva no futuro, com as marcas do passado e a incerteza do presente, estamos fadados ao sofrimento.

Superar a dor se tornou o nosso motivador. Com os nossos devaneios, desejos e expectativas, imaginamos como tudo deveria ser. Dentro desse mundo imaginário, carregamos as frustrações do passado, suportamos o presente e esperamos o futuro.

Tenha uma meta, alcance um objetivo, se sacrifique para alimentar a sua criação. Não desista, persista e continue, não pare, é o que sempre ouvimos. Mas será que a imaginação que conseguimos criar está nos fazendo bem?

Tenho minhas dúvidas, com doses cavalares de dopamina, sempre insaciável e com uma novidade na palma da mão, o nosso cérebro se acostumou a ficar “alegre”, a estar “ligado” e raramente nos deixa nos conectar com a nossa realidade.

Criando um mundo de prazeres instantâneos, aprendemos a querer o próximo estímulo, tentamos encontrar “remédios” e milhões de justificativas para o nosso passado infeliz e discutimos, o presente, no futuro do pretérito, sempre com base em mais uma informação que acabamos de absorver.

Com o nosso mundo um caos, é mais fácil fugir dele. Vamos julgar o vizinho, apontar o dedo e falar do cara da televisão, gritar com uma tela na mão e nos enaltecer por nossas conclusões de assuntos que não nos convém. Em um mundo em que tudo se sabe, nada se aprende e tudo é descartável, percebemos que quanto mais conectados estamos, mais solitários nos sentimos.

Não quero ser pessimista, mas a tecnologia, mata a humanidade. Por mais que ela nos facilite o nosso modo de vida, ela nos distancia das nossas almas, tornando nossas emoções e sentimentos tão fúteis e palpáveis que em breve iremos esquecer que somos humanos.

Criamos uma nova linguagem e, aos poucos, estamos sendo programados por ela. Com um acúmulo de informações inúteis, dentro da nossa superioridade racional, acreditamos que quanto mais compreendermos como controlar ou moldar o que sentimos, melhor será o nosso futuro.

A programação visa a modernidade, mas ao mesmo tempo é pragmática, tem que manter alguns padrões. Esse algoritmo ativado diariamente em bilhões de pessoas provoca um conflito interno que reflete no lado de fora, precisamos deletar o que nos mata, no entanto queremos manter o que suportamos, isso porque, temos medo do que podemos ser. 

Já tivemos a chance de fazer um mundo melhor, não conseguimos, facilitamos o nosso cotidiano e, assim descobrimos, que a nossa racionalidade inibe o nosso instinto, contudo, o que conseguimos criar é um mundo que só existe na nossa imaginação e, por conta dela, a nossa história foi construída tendo como base os nossos medos e os nossos delírios, transformando o nosso futuro em uma amarga e cruel ilusão. Por isso, necessitamos de uma nova dose de dopamina.

Mas como tudo que é demais vicia, daqui a pouco tempo, teremos a necessidade de criar algo mais poderoso que a dopamina, uma sensação que não nos alimentará mais. Quem sabe a necessidade da sobrevivência iminente faça a força bruta assumir o lugar da nossa imaginação, esta já cansada, de esperar o futuro, carregar o passado e viver o presente.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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