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23/01/2024 às 08h00min - Atualizada em 23/01/2024 às 08h00min

Mais lembranças do Capparelli

ANTÔNIO PEREIRA
De vez em quando, conto um pedaço do meu papo com o Sebastião Capparelli, de dezembro de 1990. Vai mais um pouco:
 
 “O Spirandelli começou com conserto de bicicletas ali em frente ao Juca Ribeiro. Era uma pequena oficina. O Silvestrin eu não me lembro bem. Ele era vizinho do Anselmo Crosara. Eles tinham negócios parecidos. Trouxe muita coisa de mecânica para cá, mas eu não tenho muita certeza. O sr. José Camin foi um dos primeiros na lavoura. Depois vieram outros italianos de Conquista, de Calafate; alguns vieram direto da Itália, da região de Trevizo. Trouxeram pra cá um now how. Sabiam plantar esse arroz de sequeiro. Eu não sei se eles foram os pioneiros, mas eles trouxeram um grande avanço. Foi aí que Uberlândia começou a produzir arroz em grande quantidade. E daqui se espalhou por Goiás, me parece que, antes da soja, a riqueza de lá era o arroz. Eram os Segatto, Biazzi, Malagoni, Rizza, Zanatta. Depois, eles vieram pra cidade.
 
Têm lá uns remanescentes, mas são poucos. O começo foi lá no Pontal, pro lado do Cruzeiro, do Aprazível, ali pra baixo. Ali era uma mata. Conheci o Giacomo Segatto demais. Esse pessoal é que trouxe o plantio de arroz de sequeiro. Quase não plantaram café. Eles não eram proprietários, eram meeiros. Por isso não enriqueceram. ”
 
“Os primeiros italianos trouxeram serviços técnicos que atraiam clientes da redondeza que necessitavam de serviços especializados. Cezarinho Crosara consertava a Usina Ribeiro. Até peça ele produzia para a usina. Porque nós já tivemos uma usina de açúcar, já tivemos uma fábrica de tecidos, já tivemos uma fábrica de fósforos, já tivemos um curtume. Agora temos de novo, mas ficamos sem por muitos anos. Não houve grandes destaques dos italianos nas artes. Os filhos, talvez. O Melazzo foi músico. Foi maestro da Banda. Tem a Cora, que é Pavan. Ela tem os filhos, a Cristina. O pendão pra música o italiano tem, às vezes, pode faltar a oportunidade. Na pintura nós tivemos o Ido Finotti. Tinha o Valim Jr. O Peppe era gerente do cinema”.
 
 “Capparelli é uma família só. Nós temos uns primos, mas são de outra região. Papai, Giusepe, veio da Itália, casou-se no Prata. Ele veio de Spezano Albanese, província de Cosenza, no sul da Itália. O nome do lugar significa “aqui estiveram albaneses”.
 
Ele é calabrês. Veio de lá e pegou no cabo da picareta pra fazer a picada de uma estrada de ferro que estava em projeto para adentrar por esse centro oeste. É possível que seja a estrada que o Armante Carneiro e o Camilo Chaves queriam construir. Acho que nós devíamos aprofundar na pesquisa da vida do Paes Leme e do Fernando Vilela para o povo saber o que esses homens fizeram. Meu pai veio direto para isso. Depois que ele ajuntou algum dinheiro, comprava um boi, amarrava embaixo de uma mangueira, mandava o machado, matava, descarnava ali mesmo, tirava os pedaços, punha numa bacia, punha na cabeça e saia vendendo.
 
Até que conseguiu algum pecúlio, comprou um pequeno armazém. Dali ele resolveu ir pra Itália. Isso ele ainda estava no Prata. Chegou lá e foi ficando e a mamãe gostou, queria ficar. Ela era brasileira, da Bocaina, entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O nome dela é Arzelina Augusta da Silva. Minha avó chamava Petronilha. Meu avô eu não sei. Meu avô derrubava mato e plantava café no estado de São Paulo. Naquela região de Botucatu, Lins. Então minha mãe foi criada que nem cigano. Terminava ali, iam pra outro lugar. Ela conta que tinha índio, tinha onça. Conta que estava lavando roupa no córrego e via anta. Era tudo mato.”
 
Fonte: Sebastião Capparelli



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