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19/01/2024 às 08h00min - Atualizada em 19/01/2024 às 08h00min

Romicompras

WILLIAM H STUTZ
Que atire o primeiro pix aquele que nunca fez uma compra virtual. Sites do tipo Mercado Livre, Amazon, Shopee e tantos outros fizeram a festa nos últimos anos. Depois “daquilo” que nos socou em casa, nos pôs máscara, criou o vício do álcool gel, obrigou as reuniões, assim como o trabalho a serem realizados rotineiramente em casa nos tais “romiofice” e “romimitings”, a farra das compras com teclado prosperaram.
 
Até o surgimento da salvadora vacina e sua demorada e assassina política de distribuição e finalmente aplicação, ficamos reféns de novos hábitos e vícios. A solidão do isolamento nos empurrou para uma das mais complicadas e preocupantes manias se assim for possível classificar, o “romicompra”.
 
Pior do que jogo de baralho, dados ou roleta e até o aparentemente inofensivo bingo de quermesse. O tal de comprar online virou febre.
 
E hábito ou mania vieram para ficar. De pizza a compra de supermercado. De roupas a aviões. De remédios a kit churrasco, tudo via internet, sem sair da fortaleza de sua casa. Só o mosquito da dengue, os noticiários trágicos da televisão e os Netflix da vida não respeitam esse canto sagrado. Na verdade, tem muita mais coisa que não respeitam a nossa privacidade, nossa clausura voluntária ou não. Mas essa é outra história. Voltando às compras.
 
Dia desses, numa destas lojas virtuais comprei um trem qualquer (trem no nosso mais puro jeito mineiro de falar)
 
Levou uns bons dias para chegar. Mas como quase sempre chegou. Já tomei cano, mas por culpa deste que vos escreve mesmo. Era como se eu pedisse em súplica: cai no golpe otário, cai no golpe babaca. Bom, cai! Comprei, paguei e não recebi. Coisa pouca em valores, mas a sensação de levar um tomé é ruim pra caramba. Você se sente o próprio idiota, mas vá lá serviu de lição. Ah Chico, te roubo pedaço do poema: “Ouça um bom conselho, que eu lhe dou de graça(...)” Bom Conselho - Chico Buarque 1973
 
Antes de qualquer compra, pesquise. Não apenas preço é claro, mas idoneidade do site, o
RECLAME AQUI  é um ótimo começo, mas não é o único. Quem sou eu para dar conselhos de segurança de compras na web, mas converso com os caras fera. Eu tenho um consultor particular, aliás dois, meus filhos.
 
Mas qual o motivo de tanto falar disso? Cheguei lá! Outro dia com já disse comprei um trem em conceituada loja virtual. Bom, mal chegou o pacote, ávido abri. Olhei, olhei e tornei olhar.
 
Tinha que montar o tal. Geralmente no afogadilho tentamos montar sem nem olhar as instruções com se fosse a coisa mais banal do mundo. Virei para um lado, virei para o outro sem pressa. Não consegui sacar nenhum encaixe com cara de encaixe.
 
A única coisa que percebi logo de cara era que o bocal não iria servir em lugar nenhum aqui de casa dada posição “anatômica” da peça. Fui ao manual de instruções se é que se pode chamar um panfleto de manual. Ai a casa caiu!
 
Estava escrito única e exclusivamente em chinês ou seria mandarim sei lá eu. Depois descobri que mandarim é um dos dialetos que compõe o a língua chinesa! Morria mas não saberia disso nunca. Viu só, manual/panfleto e claro curiosidade são fontes de conhecimento.
 
Não ia rolar, não dava para ficar com a compra. Ai e, só ai você conhece a seriedade de um site de vendas. É igual companhia de seguros, você só conhece a qualidade do serviço quando precisa dele.
 
Podia devolver sem custo em prazo determinado diziam. No mesmo dia preparei a compra na embalagem original e fui a uma Agência dos Correios. Sem burocracia, sem mas isso ou aquilo, a moça lacrou pacote, me passou um recibo e até mais! Dias depois o dinheiro investido foi estornado em minha conta. Senti a seriedade da loja virtual, e junto com ela aquela vontadezinha de comprar, não precisava de nada mesmo, mas o cérebro pedia uma gratificação, funciona como uma droga mesmo.
 
Desliguei ligeiro o tablet e fui ler um bom livro até a vontade passar. E passou. Acho que estes sites deviam vir com um aviso tipo os das caixinhas de cigarro. Podem não fazer mal a sua saúde física a curto prazo, mas a saúde financeira vai ser sentida logo na primeira fatura do cartão de crédito. Mais um pequeno detalhe, não caia nessa de dividir em dez vezes sem juros. A parcela pode parecer pequena, mas vai somando parcelinha aqui, parcelinha ali quando você vê é um montão sem fim.  Todo cuidado é pouco.
 
Vai ler um livro, junte seu dinheiro para uma viagem, você ganha muito mais e ficará mais feliz do que comprando aquele saca-rolhas automático com luzinhas e que toca uma musiquinha em homenagem a Baco. Cara, nem vinho você toma!



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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