O jornalista Igor Castanheira traz seu olhar sobre temas relacionados a inclusão e acessibilidade.
IGOR CASTANHEIRA
Quando nascemos Somos motivo de alegria Quando descobrem a nossa singularidade Somos motivo de preocupação A felicidade genuína perde espaço E um medo desconhecido atinge a todos ao nosso redor.
Não devemos nos sentir culpados Tampouco culpar alguém Seria muito fácil e doloroso A nossa chegada muda tudo.
Minha família e eu estávamos descobrindo um novo mundo Eu puro, ingênuo e com amor Querendo conhecer essa imensidão Tão pequena.
Minha Família Já contaminada com esse mundo doente Me carregava com medos e incertezas Com o estigma de uma doença O sofrimento foi enorme Era preciso um tratamento aqui, outro ali Tinha que me curar Ou, ao menos, me adaptar ao mundo.
Entre fisioterapias, psicólogos, fonoaudiólogos E a procura de um tratamento ideal Muitos desencontros e várias negativas As dúvidas aumentavam As alternativas eram escassas E o conhecimento era limitado
Em meio a tantas tristezas Cada pequena conquista era celebrada Como a vitória de uma Copa do Mundo Era preciso encontrar pessoas que enfrentassem esse desafio Como me desenvolver? O que fazer? Quem procurar?
Sem conexão Mas com muita vontade Lá fomos nós Derrubando muros A minha família Acumulando cicatrizes Eu me notando Cada vez mais esquisito No entanto Na base da tentativa e erro Fomos nos encaixando Encontrando anjos valentes Que resolveram aprender e se descobrir com a minha realidade.
Em um universo novo para todos Eu e a minha singularidade Fomos crescendo Encontrei algumas “tias e tios” no caminho Na fisioterapia, na natação, no consultório, na escola Pessoas que estiveram ou estão comigo até hoje.
Poxa, olha pra trás E digo Vocês que são guerreiros Me abraçaram Estudaram Brigaram Erraram E acertaram Muito obrigado!
Não foi fácil! Muito menos barato Cirurgias, tratamentos Muita pesquisa E milhares de conexões Trouxeram-me até aqui.
Minha família ainda carrega as marcas Suporta as dores E não esconde o medo do futuro Sempre incerto.
Nessa caminhada Aprendi a ter medo do mundo Apequenei meus sonhos Prendi os meus desejos Me acostumei com a piedade.
Assim como todos E as suas singularidades Consegui me adaptar Me transformar Por alguns instantes Ser aceito.
Aceitei o meu “problema” Desvalorizei-me O espelho não me agradava Pronto! Estava tudo certo Já me enxergava Como o mundo Quis me ver.
As imperfeições humanas As dores do mundo Provocaram-me imensas angústias.
Eu tinha certeza A sociedade não queria me conhecer Isso é histórico!
Ela demorou milhares de anos para se estruturar Já com os seus dogmas, seus medos, seus mitos e fantasias Ela e sua utópica e cruel Busca por igualdade Construiu padrões Estabeleceu preconceitos E mesmo com tantos defeitos Me excluía.
Por me faltar algo Que alguns julgavam Qualidades imprescindíveis Ou por não ter conhecimento e medo Descartavam-me Literalmente.
Morria sem viver Agora há menos de 50 anos Por conta de alguns Com status social Poder econômico e político Que sensibilizam com causa Seja por qual motivo for Resolveram gritar por muitos Que sofrem ou sofreram Mas ninguém os ouvia, enxergava e acompanhava
Essas vozes São de grande valia Afinal, elas significam milhões.
Porém, estamos no início desse processo Ainda estamos abrindo espaço Buscando apenas por aceitação Tentando nos encaixar em um mundo Que nos rotula como deficientes. Nós concordamos e seguimos Lutando.
Cada um a seu modo Todos querem se encontrar Ter o seu lugar Mas será que isso basta? Será que não estamos querendo pouco? Por que gostaríamos tanto de ser iguais a todo mundo? Se esse mundo não é pra nós.
Por que não viramos o jogo? Por que não mostramos que esse mundo pode ser diferente? Por que fazemos questão de estar no mundo em que todos sofrem?
Nós somos vistos diferentes Somos tratados de forma diferente Temos o desenvolvimento diferente E não nos encaixamos nos padrões Por que isso é ruim?
Se pararmos com essa busca pela igualdade Se compreendermos que não precisamos alimentar a competitividade Se aprendermos a sorrir Venceremos o medo.
Nós podemos pedir ajuda Não temos necessidade de construir impérios ou manter patrimônios Não precisamos ser ambiciosos Por que isso é dito como algo ruim?
Por outro lado Por conta da nossa condição E de como encaramos ela Temos mais facilidade de Despertar a humanidade das pessoas Gerar empatia Provocar reflexões Gerar transformações Isso é maravilhoso!
O mundo precisa parar E refletir Até que ponto tenho que ser competitivo? Quais os valores que me pertencem? O que estou plantando? Minha caminhada está valendo a pena?
Nós queremos ser amados Depende de nós. Afinal, alguns dos rótulos que nos colocam agora Vão pertencer a eles amanhã
No dia da pessoa singular Celebro a minha condição Deixo-me levar por um sonho Digo não aos rótulos Continuo sorrindo Muitas vezes choro Mas persisto Amando a humanidade Agradecendo pela vida E as suas singularidades.
Descubra a suas Seja feliz!
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