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22/09/2023 às 08h00min - Atualizada em 22/09/2023 às 08h00min

Tempo do onça (Parte I)

WILLIAM H STUTZ
Nem sempre as relações entre irmãos de sangue são das melhores. Chamar alguém de irmão, com ponto de exclamação, e sentimento fraterno verdadeiro, transcende as raias da genética, salta as barreiras da consanguinidade. Esclarecido este meu sentimento passo a relatar um recente um ocorrido. 

Dias atrás, recebi um de um amigo/irmão e-mail que trazia anexado uma dessas apresentações de slides. Diga-se de passagem, que raramente, quase nunca, abro esse tipo de mensagem por dois motivos básicos. O primeiro diz respeito a vírus. Estes aplicativos são os cavalos de madeira facilitadores para introduzir em nossa Tróia eletrônica superpopulação de vírus de todos os tipos, tamanhos e ações malévolas, colocando em risco nossas máquinas e em perigo nossos segredos.

Outro motivo da minha implicância diz respeito ao conteúdo das tais. Além do fato de virem muitas vezes acompanhadas das famosas frases de “o melhor pps que já vi”, “este é maravilhoso”, e outras coisas do gênero. Isso sem levar em conta que os queridos que os enviam, não deletam as listas gigantescas de endereços que já receberam e não se dão ao trabalho sequer de apagar o as iniciais FW do “Assunto” da mensagem.

As ditas, geralmente são mensagens tipo autoajuda, muitas vezes de cunho religioso, usando o santo nome Dele e de, é claro, de santos em vão, te cobrando o preço mais chato que se pode existir, que é reenviar para dez ou vinte pessoas a mensagem. Quem não perdeu tempo enorme escolhendo as tais 20 ou mais vítimas que atire o primeiro monitor.

Se não o fizer, as sanções são as mais variadas, mas sempre funestas: ficará vesgo do olho esquerdo, terá unha encravada, bico de papagaio, mal da gota, perderá todo dinheiro, entrará no cheque especial, seu cartão de crédito será clonado ou seu amor lhe abandonará. Algumas mensagens trazem verdadeiras pragas: se não mandar para sete mil trezentos e doze pessoas, será atropelado por navio, ou cairá uma pedra do Himalaia em sua cabeça. Além é claro, de ver seu endereço eletrônico incluído na categoria de spam de muitos de seus amigos. Assim, tenho como regra abrir apenas e somente apresentações que são dirigidas à minha pessoa, por aqueles de quem gosto muito e que ainda contenham algum indicativo do conteúdo. Foi o caso dessa enviada por Ézio. Mostrava e descrevia itens antigos usados nas nossas escolas dos anos 20 aos 50. Muitas delas chegaram ao meu tempo, outras conhecia por ouvir falar, como a cartilha Caminho Suave. Caneta tinteiro Parker 51, essa eu tinha, herdada de meu avô, assim como o tinteiro triangular em forma de doce de leite de mercearia.

Ao ver aquelas imagens por minha mente dançaram figuras e sensações de um passado, nem tão distante, pelo menos para mim, sensação tão viva que pareceu ocorrido outro dia, logo ali. 
Cheiro de pasta de couro nova, barulho de lápis raspando a lâmina do apontador, o giz a rasgar o quadro negro arrepiando todos na sala. O voltar para casa pisando em frutinhas dos imensos e sombreados fícus, era um creck, creck, creck quase até ao portão chegar.

A televisão preto e branco, pontinho de luz para começar a funcionar e que lá ficava tempos depois de desligada. 

“TV Itacolomy, sempre na liderança, canal 4 Belo Horizonte, Minas Gerais” Esse era o jingle. Na tela, além da música que mil vezes repetia, apenas o índio símbolo da emissora, se não me engano era a Tupi. O índio tipo americano com cocar de chefe e um monte de círculos, riscos e escalas que não faziam o menor sentido para nós crianças. Mas aquele nada era um espetáculo para nós.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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