Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
22/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 22/08/2023 às 08h00min

Antigos curadores

ANTÔNIO PEREIRA
Curadores de doenças, claro.

Quando a área da futura Uberlândia começou a receber gente, chegaram os raizeiros, benzedores, curandeiros, gente pouco alfabetizada, mas que conhecia tudo dos remédios do mato. O lugar não tinha médico nem farmácia, o jeito era apelar para raízes, folhas, flores, orações, sementes, rituais. Lembro-me de alguns curadores recentes. Aqui, em Uberlândia, dona Helena curava até vitiligo. Era minha amiga, não sei mais dela. Teve também o seu Juvenil lá da Saraiva. Lá em Lassance, perto de Pirapora e Curvelo, tinha o Sô Di. Não sei o nome dele. Lassance foi o lugar onde o Dr. Carlos Chagas fez os primeiros estudos que resultaram no conhecimento da terrível doença de Chagas. Era tão dedicado à ciência que morava dentro de um vagão abandonado da estrada de ferro que ia até Pirapora. E foi com uma menininha infectada, que morreu no começo da década de 1981, que ele começou seu trabalho. Até hoje não há remédio para essa praga. Pois o Sô Di curava. Geralmente os raizeiros não cobram porque acreditam que é um destino divino que receberam e devem repassar sua sabedoria para o povo gratuitamente, como receberam. Sô Di quando era procurado por doentes, pedia, antes do tratamento, o exame Machado Guerreiro que marcava com cruzes a gravidade e o estágio da doença. Sô Di fazia cinco garrafões da sua mistura de matos e dava, de graça, ao paciente. Exigia apenas que, após tomar os cinco garrafões fizesse outro Machado Guerreiro. Que sempre dava negativo. O jornalista Argemiro Evangelista Ferreira, do antigo Correio de Uberlândia,   diretor da ACIUB,  fez esse tratamento. Era eu quem trazia para ele os garrafões. Venceu a doença. O único problema é que os estragos já feitos no organismo não tinham recuperação. A mulher do Sô Di é que ficava botina de raiva porque ele não cobrava nem o garrafão. As plantas eram o poder de Deus lhe indicava gratuitamente, mas os garrafões ele tinha que comprar. E não cobrava. Copiei muitos Machado Guerreiro de antes e de depois do tratamento e entreguei na TV daqui. Acho que jogaram fora. Na sua revista Uberlândia Ilustrada de junho de 1953, Jerominho Arantes registrou vários tipos de remédios e garrafadas. Vou transcrever alguns. Para defluxo malino, ou influenza catarrenta, era infalível o purgativo de azeite da mamona e, depois, o cordiale feito com raízes de fedegoso e fumo brabo. Maceração de raízes  de velame branco do campo, coroba, marolo, japecanga e cravinho eram infalíveis na cura do esquentamento (blenorragia). Maleita brava se curava com purgativo de leite de jacarandá do mato. Nas moléstias de senhoras, usava-se infusão de raiz de pé-de-perdiz e paratudo. Banhava-se a parte melindrosa com folha de arruda cozida. Para olho vermelho e remelento, gotas de limão. Folha de hortelã ou erva de Santa Maria não deixam lombrigas vivas. Catando por aí, encontrei mais algumas preciosidades: laranja azeda e aveia crua são boas para reduzir colesterol, cipó cabeludo  e vassourinha é bom para problemas musculares, mentruz é bom para machucados, e mais timbira, limão do mato, angico vermelho, cambará... etc etc etc.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90