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19/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 19/08/2023 às 08h00min

A dor e o medo

SE MANCA!, por Igor Castanheira

SE MANCA!, por Igor Castanheira

O jornalista Igor Castanheira traz seu olhar sobre temas relacionados a inclusão e acessibilidade.

IGOR CASTANHEIRA
Toda dor que sentimos é só nossa.
Gostaríamos de compartilhá-la com alguém.
Falar a respeito.
 Tirar dúvidas.
Enxergar outras possibilidades.
Queremos um exemplo ou um espelho.
Contudo, geralmente não temos.
Olhamos para todos os lados, porém não encontramos alguém semelhante.
Nós estamos sozinhos!
Com isso, acumulamos frustrações e duvidas.
Quem esta ao nosso lado percebe.
Tenta ajudar, buscam alternativas, mas dificilmente nos compreende.
Elas, por instinto, nos protegem.
Sabem que o mundo é cruel.
E assim, seguem buscando a melhor maneira de nos incluir.
O problema é que a forma escolhida, geralmente munida de muito medo.
Esse sentimento é acompanhado da falta de conhecimento e de informação.
Assim, entre erros e acertos, vamos seguindo o nosso caminho.
Com as marcas que ele pode deixar.
Culturalmente, para muitos, não somos saudáveis.
Isso não choca!
Sempre ouvimos, quero que o meu filho(a) seja saudável.
Aí, chega à gente, complicou tudo!
É tratamento pra cá, terapia pra lá.
Adaptação dali, ajustes de cá.
E os nossos “defeitos” vão se encaixando.
Damos um trabalho danado.
É uma correria sem fim.
Essa angustia começa desde o primeiro diagnostico
 E posso dizer: ela não acaba!
O medo está sempre presente.
No começo, achamos estranho não estar em um ambiente com alguém com a mesma singularidade.
Mas, hoje, me pergunto: será que o  melhor é nos deixar em pequenas comunidades para nos desenvolver junto com pessoas com condições similares?
Talvez, para os familiares seja mais fácil.
Afinal, o ambiente será de acolhimento,
Em um primeiro momento, aquela sensação de conforto, na verdade, de alívio!
Agora, as dores e as dúvidas seriam compartilhadas.
E situações comuns a todos, ali, seriam debatidas.
Poxa, parece ser o melhor dos mundos, não é mesmo?
A partir dali, o tão esperado exemplo, seria mais fácil de encontrar.
Na teoria, sim.
Todavia, compreendemos que são situações similares, no entanto, não são iguais.
Por mais que haja uma rede de apoio, extremamente necessária, o medo predomina quando falamos fora desta zona de conforto.
Por isso, é mais fácil mantê-la.
Assim, o incluir fica restrito a um ambiente.
Onde há várias pessoas com as mesmas dúvidas e frustrações.
E outras tantas tentando as proteger do que elas não conhecem.
Ou, somente enxergam o que a sociedade mostra.
Aumentando, assim, a necessidade instintiva de proteção.
Algumas pessoas desses ambientes buscam nos incluir, de fato!
São poucas!
Elas encontram resistência externa e interna.
Pois, sabem. O mundo tem medo do diferente.
E a família tem medo do “Normal”.
Com medo seguimos.
Essa estranha relação nos faz ficar presos em nossas emoções e experiências.
Mas todos acreditam que estão fazendo o melhor.
Mas, na verdade, ficamos vulneráveis a tudo.
Não compreendemos o que há a nossa volta.
Nos limitando ao nosso próprio universo.
Fazendo dessa superproteção algo nocivo
Assim, nos tornamos egoístas e mimados.
Alimentando a nossa dor e valorizamos o nosso ego.
Com isso, não queremos um mundo inclusivo.
Buscamos um mundo que nos aceite.
Mergulhados na nossa dor, somos incapazes de compreender que a inclusão não se refere somente a nós.
Mas estamos convencidos que ela nos pertence.
Assim como a dor, que também acompanha a todos.
Acreditamos que ela faz parte de nós.
Mas, sabemos o que temos que vencer para evoluir.
O medo!
 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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