Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
15/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 15/08/2023 às 08h00min

Dificuldades da industrialização

ANTÔNIO PEREIRA
Conversava muito com Geraldo Migliorini. Ele conhecia bastante do passado empresarial da cidade. Em junho de 1992, contou-me porque a industrialização de Uberlândia era tão difícil. Mais ou menos, foi isto que ele me disse:

“Nos princípios da década de cinquenta, faziam parte da história da Associação Comercial três empresários amigos que invariavelmente encontravam-se na avenida Afonso Pena, à noite, trocando ideias sobre negócios e desenvolvimento da cidade. Eram eles: Francisco Capparelli, Geraldo Migliorini e Mário Rezende Ribeiro. Migliorini costumava dizer-lhes que precisavam cuidar da industrialização da cidade. O Capparelli retrucava que ele, Migliorini, bem podia convencer algum industrial de Franca a vir para cá, afinal, tinha muitos amigos lá. O Mário Ribeiro apoiava.”

“Um dia o Mário propôs: “Uberlândia precisa industrializar-se e eu tenho uma ideia boa para início: é uma siderúrgica. É uma coisa muito boa. Nós compraremos os tais pellets lá das siderúrgicas de Belo Horizonte. É fácil perfilar os ferros que terão boa saída por aqui porque estão em falta.” Na hora, concordaram os três. O Mário continuou: “Eu fico com cinquenta por cento da firma, você e o Capparelli ficam com o resto.” Era um negócio arrojado. Migliorini propôs que, para um negócio tão grande, era preciso mais um sócio.  Lembrou também Migliorini que o consumo de sacos de aniagem era muito grande e havia falta. Ficaram todos entusiasmados.”

“Havia uma pessoa muito entusiasmada com as coisas de Uberlândia. O Adib Chueiri. Quando ele soube dessa conversa, procurou o Migliorini e se propôs a auxiliar no negócio, Migliorini consultou Capparelli que achou bom. Reuniram-se os quatro e contaram a Adib suas pretensões.”

“O Adib, que era muito conhecido, entrou em contato com um engenheiro alemão, de São Paulo, que vendia máquinas para fabricação de sacos de aniagem e para siderúrgicas. O engenheiro se propôs a visitar Uberlândia. E veio. Encontraram-se os cinco. O engenheiro alertou-os de que necessitavam de duas coisas importantes: água e energia elétrica.”

“Foram ao prefeito que era o José Fonseca. O prefeito disse que a quantidade de água que eles precisavam era exatamente igual à que a cidade consumia. Era difícil dobrar. Foram à Companhia Prada de Eletricidade. A energia mal dava para o povo. Constantemente havia ciclos de cortes.”

“O engenheiro sugeriu-lhes que primeiro resolvessem o problema da água e da energia e depois o procurassem que ele voltaria com prazer.”

“José Fonseca empenhou-se, conseguiu ampliar a coleta de água, mas foi insuficiente. A Prada continuava a mesma, deficiente. Entrou outro prefeito, o Tubal Vilela, que aumentou consideravelmente a distribuição de água, mas continuou insuficiente. E a Prada, a mesma, nem um quilowatt a mais. Veio o prefeito Afrânio Rodrigues da Cunha que também se empenhou no aumento da captação de água sem atender a necessidade daquelas indústrias. A Prada, nada. Os prefeitos se sucederam sem conseguir uma quantidade suficiente que atendesse a população, as empresas em geral e mais uma siderúrgica e uma fábrica de sacos de aniagem.  Pelo mesmo modo, a Prada não conseguiu ampliar a produção de energia.”

“E tal situação permaneceu até a captação de água da Sucupira, pelo prefeito Renato de Freitas e posteriores ampliações e outras captações pelos prefeitos Virgílio Galassi e Zaire Rezende e a encampação da Prada pela Cemig. Mas, aí, o tempo já passara demais, os entusiasmos estavam arrefecidos e a cidade perdeu, por falta de infraestrutura duas indústrias importantes.”

Obs: Migliorini conta esta passagem histórica como se ele fosse uma terceira pessoa, mas não é, não. É ele mesmo. 

Fonte: Geraldo Migloiorini


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90