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04/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 04/08/2023 às 08h00min

Psicografia

WILLIAM H STUTZ
Como soco seco em vazio estômago, sobe em peristaltismo contrário e acaba na garganta como sufocante bolha de ar.
O escrever. As letras mansas como gado tangido em corredor de terra, a vontade, a ideia, a vontade que conduz vem rápida. Ou se guia o gado ou o rebanho, como as palavras, se desfaz em nuvem pó, cada uma toma um rumo. Nunca mais
Eu queria ter mais letrinhas na cabeça assim escreveria uma história que de tão grande a boiada sonora seguiria em longa fila. Das gerais das Minas ao sertão de imenso Goiás sem pedágio que a interrompesse. A caneta, meu berrante, meus óculos, minha visão.
De tão grande que o tropel levantaria nuvem de poeira densa. Se faria noite por seis dias, apagando estrelas por seis noites. E quando cortado o trecho e o pó em mansidão se assentasse, não haveria sujeira e tristeza, mas sim colorida e imaculada paisagem. Seria como se as mais puras das geladas brisas das montanhas em julho, lá da serra por ali fossem sopradas e a escuridão do tropel seria substituída por sol em invulgar brilho. Reinando. As gentes seriam felizes, belas e doces.
Eu queria tanto ter mais letrinhas na cabeça e o dom de juntá-las em harmônico conto. Seria conto de amor a longa história. Eu queria.
O escrever sem ter lido. Estranho. Descobrir Kant, ou a saga de Tristão e sua salvadora e venenosa língua de dragão, troféu.
É como conduzir caminho vazio, sem carga. Porém o condutor se sente feliz pois para ele, seus olhos e seu corpo, a carga é farta em algo que alimenta, irá satisfazer almas.
Entre arrumações de camas, vassouras e faxinas, as ideias vão brotando. Entre trocas de pês e bês atrapalhando e atrapalhando. As histórias se formando, os poemas nascendo assim como que sozinhos, alguns cheirando a detergente outros a temperos raros: Anis estrelado em céu azul?
Psicograficamente, do nada, é o vazio da criação. Se algum valor literário pode ou não a escritos assim serem conferidos, se ruins ou bons podem assim soar, não importa. Quem escreve, quem compõe lava a alma, limpa a casa.
Vive de ideias só suas sem sorver sentimentos alheios, sem se alimentar da alma do outro. Pensamento completo, só seu, difícil, inteiro, completo/completo/completo. Vampiro de suas próprias emoções.

Lua virada

Na virada da lua entre minguante e nova tenho sempre curto interstício de vida
fenda profunda entre real e imaginário

A reclusão e o silêncio sempre me acompanham
No fundinho da gaveta, junto ao mais perfumado sachê , jasmim, me aquieto

Pensamentos atormentam meu cotidiano
Pensamentos alimentam meus sonhos
Como voltar?
Lembro dos amigos

Quando voltar?
quando me sentir confortável, quando me sentir afável.

Por que voltar?
Porque amigos de verdade sempre esperam Pacientes, compreensivos

Na virada da lua entre minguante e nova existe sempre a expectativa da Clara luz da cheia,
não só lua , mas vida cheia, completa plena, repleta

Tudo isso na virada da lua
na virada da lua
na virada da lua
da lua
da lua



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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