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28/07/2023 às 08h00min - Atualizada em 28/07/2023 às 08h00min

Uma crônica ou dois contos

WILLIAM H STUTZ
Busca
São tantas as maneiras de um verdadeiro amor expressar. O poema acima de minha autoria nasceu muitos, muitos anos atrás. Um amor adolescente, permanente que a vida toda me acompanhou. Estranha a vida, quisera eu saber motivos para guardar nas lembranças amores tão distantes, tentativa de resgate? Por que não? Vontade de saber como está, como vive onde se encontra. Todos sofremos de lonjuras como disse com maestria Manoel de Barros, o grande poeta das miudezas, aquele que me ensinou o olhar para todos os lados, não em busca das riquezas gigantescas e velozes, mas as lentas quase invisíveis seu “Apanhador de desperdícios” encantam. Os amores foram feitos para durar para sempre, bom quase todos. Pode-se viver uma vida com alguém e o amor não ser o bastante. Vira costume, cadeira ao sol, acomodado. De amor a escrava solidão, rotina sufocante, vazia. Insistimos a malhar ferro frio. Não. Fomos feitos para sermos felizes, “a vida não é uma condenação” me disse um amor verdadeiro. A busca perfeita, eterna busca, um dia um dia surge em luz. Parafraseio Alda, minha mãe “no fundo bem no fundo encontrarás a pérola” e não existe tempo nem lonjura que separe sentimento verdadeiro, puro. O feito para eterno ser eterno será, sem costume, rotina, bocejos ou indiferença. Cada dia um pedido de namoro, cada amanhecer beijo doce, variados sabores. Feliz aquele que da poltrona da vida arriba, por vontade própria ou atirado. Tem a chance de começar tudo outra vez. E lá não é tal uma dádiva? Quantos podem ou querem? “Mergulha fundo/Mergulha mais fundo ainda/ Como um pescador de pérolas/ E procura/ Procura sem te cansar! (Swâmi Paramananda, Índia, sec. 19) Sim encontrei minha rara joia, você também achará a sua. Basta e só basta procurar. Assim Manoel, o de Barros, nos ensina “Prezo a velocidade/ das tartarugas mais que as dos mísseis. / Tenho em mim esse atraso de nascença./ Eu fui aparelhado /para gostar de passarinhos. Mestre, mestre, quanta saudade: “ Só uso a palavra para compor os meus silêncios.” Reaprendi o amor verdadeiro. No mais, Gerias. Em festa.

Questão de Química
Levanto-me cedo, lavo as mãos com sabonete perfumado, vou à cozinha e ponho água a ferver para o café.

Tomo banho também com sabonete, lavo os cabelos com shampoo com cheiro de frutas, não resisti e provei, o gosto é horrível.

Após o shampoo vem o condicionador, antes chamado de creme rinse, lembram? Na ducha mesmo faço barba e para tal uso creme específico para que as lâminas bem deslizem: a primeira faz “cham”, a segunda faz “chum”. Saio do banho, escovo os dentes com pasta dental tricolor, não sei o que representam aquelas cores: Fraternité, Egalité, Liberté, em bom francês poderia ser? A liberdade é azul.

Ia esquecendo, creme pós-barba, afinal ninguém é de ferro.

Um creme hidratante de rápida absorção, pois aqui é o cerrado e a umidade anda pela casa dos 12%. Saara, dizem.

Desodorante sem cheiro, e antes de me vestir um perfume.

Para a rua, não sem antes aplicar um protetor solar fator trinta pois o buraco na camada de ozônio não nos permite facilitar.

Alguém já parou para imaginar a quantidade e a variedade de produtos que foram usados apenas em uma manhã, num pós-despertar? Overdose química de procedências várias — claro, todos com a devida chancela da ANVISA, mas será que a mistura, a combinação já foi testada alguma vez?

Dizem que manga com leite, pepino com cachaça fazem mal, e aquilo tudo pode também?

Detalhe importante, as senhoras e senhoritas ainda acrescentam à sopa de cheiros e nomes, batons e maquiagens variadas. Céus.

Um coquetel molotov de moléculas e princípios ativos vários. Além das infinitas trilhas sonoras das propagandas, até que ponto nossa pele, essa que é o maior órgão do corpo humano, pode aguentar?

Será mesmo o céu o limite? Questão de química ou de saúde pública? Com a palavra, senhores dermatologistas. Deixa eu correr, a água do café já ferveu.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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