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04/07/2023 às 08h00min - Atualizada em 04/07/2023 às 08h00min

Os primeiros serviços de água

ANTÔNIO PEREIRA
Nosso primeiro serviço de abastecimento de água foi construído em 1846. Na área da futura cidade havia apenas uma pequena aglomeração de humildes choupanas na descida para onde seria mais tarde o bairro Tabajaras. Para atendê-las, vinha um rego das cabeceiras do córrego Cajubá (que na época se chamava Itajubá) que atualmente corre por baixo da avenida Getúlio Vargas. Pelas margens desse córrego se estendia largo pantanal.
               
Quem drenou e acabou com esse lamaçal foi o prefeito Vasco Giffoni, em 1942. Alguns prefeitos anteriores pensaram nesse serviço necessário ao desenvolvimento da Vila Martins, que ficava depois do “corgo” e que foi implantada pelo dinâmico nordestino Raimundo Martins de Almeida Cavalcanti.
               
Mas, voltando ao início, fizeram um açude lá onde mais tarde se construiu o UTC e um rego que descia pela encosta à esquerda do córrego. Esse rego existiu até princípios da década de 1941 fornecendo água para as chácaras do Chico Cotta (que ficava onde está o Mercado Municipal e os Correios), do Joaquim Marques Póvoa, que era um pouco mais abaixo, do José Garcia e do Dr. Achilles Windulliche, além dos casebres que margeavam a antiga estrada do Cajubá por onde passavam as boiadas a serem despachadas pela Mogiana. Essa estrada, hoje, é a rua Princesa Isabel que já se chamou, antes, 13 de Maio.
               
Poucos anos depois, começou a construção da Capela curada de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião, que ficava onde foi a Biblioteca Pública Municipal. Felisberto Alves Carrejo e Francisco Alves Pereira, procuradores dos moradores do lugar para essa construção, mandaram abrir um rego que vinha das cabeceiras do córrego de São Pedro, a quatro quilômetros de distância. O rego tirado do córrego Cajubá, embora mais próximo, obviamente não podia subir o morro para atender obras feitas na outra vertente.
               
O rego saído do novo açude (construído ali pelas alturas do Carrefour ou dos fins da avenida Rio Branco), vinha em curva de nível pela encosta da vertente formando o curso que viriam a ser as futuras vias públicas formadas pela avenida Rio Branco e rua Barão de Camargos. No começo desta rua, o rego se bifurcava, saindo um ramo para a rua Prof. Bernardes (antiga Guarany). É fácil verificar que essas vias (menos a última) são planas, ficando os seus pequenos desníveis por conta da ação do tempo, dos calçamentos e outras obras. A bica para as obras ficava no Largo da Matriz. Já era 1853.
               
Construída a Capela e o cemitério no seu entorno, como era o costume, começou a se formar um largo ao seu redor, semente da cidade, com a construção de pequenas casas de pau a pique, cobertas de palha de buriti, que se utilizavam da bica. Para cima do largo, que, anos depois, chamou-se Largo da Matriz (praça Cícero Macedo), as construções rústicas acompanhavam o rego. Cada um fazia sua bica de meio tronco de buriti e puxava a água para casa.
               
Esse foi o sistema primitivo que forneceu o precioso líquido ao povoado e, depois, à sede do Município, de meados do século XIX até a administração do Agente Executivo “cocão”, Alexandre Marquez, (1907 a 1912), quando se estabeleceu o primeiro serviço de água potável, canalizado, utilizando a mesma fonte e o mesmo trajeto. A inauguração festiva desse novo sistema foi a 12 de setembro de 1910. Antes disso era comum cachorros, cavalos, porcos, bois e outros animais beberem no rego e, ali mesmo, fazerem suas necessidades emporcalhando a água e pondo em risco a saúde da população. O que é curioso, e prova que a população não era muito chegada em novidades nem em higiene, é que a Lei determinou que todas as casas de valor locativo acima de quinze mil réis, fosse “obrigada” a ter, pelo menos, uma pena d’água. Ou seja, o progresso chegou no cabresto e no relho. A água potável “de fato” dessa época era fornecida pela preta velha Eugênia, ex-escrava, que a recolhia em latas nas várias minas que havia na cidade principalmente para os lados do córrego Cajubá, e as vendia às famílias mais exigentes, a cem réis. Eugênia tinha um filho mudo (os mudos daquele tempo acabavam virando “bobos”, por não se comunicarem), que a ajudava nesse mistério.
               
Como a oposição política nunca está satisfeita com as obras do governo, por melhores que sejam, encontrando-lhes sempre defeitos, já no ano seguinte, tinha político que elogiava a regularidade do fornecimento feito pela negra Eugênia em contraposição à água do Alexandre Marquez que, volta e meia, faltava.
 
(Fontes: Jerônimo Arantes e jornal O Progresso)


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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