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19/05/2023 às 08h00min - Atualizada em 19/05/2023 às 08h00min

Monstros e outros demônios

WILLIAN H STUTZ
Sempre nutri grande admiração pelos textos da Psicóloga clínica Shyrley Pimenta, e não sem certa ansiedade que sempre folheava ou navegava pelo extinto Jornal Correio em busca de seus escritos. Os colecionava em uma pasta de meu computador, mas uma pane seguida de uma obrigatória formatação pôs tudo a perder, infelizmente não tinha ainda o hábito de fazer cópias de segurança. Lição aprendida, hoje carrego tudo em pen drives de cores e formatos diferentes, viva a evolução tecnológica do frágil disquete a um cisquinho de plástico e silício, mas com capacidade titânica de memória, de armazenamento.
 
Um artigo e especial, Demônio do meio-dia de um longe 18/12/2007, dissecando a obra de Andrew Solomon ( Companhia das Letras  é soberbo e atualíssimo, ou apelando para a sinonímia para que não haja interpretação dúbia, é magnífico. Cativante e especial.
Talvez pelo fato de acreditar que todos nós em algum momento da vida passamos por um estágio depressivo, não de simples tristeza, mas de perda absoluta de norte magnético e existencial, e que ler sobre nossas humanas fraquezas nos torna mais, digamos: humanos.
Apenas os tolos e os presunçosos acreditam que não sentem tristeza ou melancolia, para estes a depressão quando chega é enorme perigo.
 
Com certeza o aumento de crianças e jovens que buscam na autoimolação solução para seu sofrimento deve ser encarada como problema não apenas de saúde pública, mas de cultura ou contracultura. A fragilidade dos conceitos que vem sendo passados aos jovens, e não me venham com o lugar comum de acusar a mídia apenas, pois as próprias famílias e a sociedade têm enorme parcela de culpa.
Me autoplagiando e tantos outros escritos, a cultura do TER está vindo sempre à frente do SER e pode ai estar uma das razões dessas crianças buscarem nas químicas dos medicamentos e das drogas uma falsa válvula de escape.
Tão falsa que com facilidade se rompe, a "venda dos olhos cai" e a vida se desnuda como ela é, para uns aparenta bem mais sombria, e o chão se abre, os demônios internos passam a dominar, o desfecho desses episódios é tragicamente conhecido, anunciado.
 
"Desconstruir nossos monstros" implica acredito eu, em mudar a maneira de encarar o mundo, é abolir as futilidades, o egoísmo a soberba, aqui no sentido clássico, ou de "presunção exagerada para com bens materiais".  Mudança radical de valores para muitos é quase impossível, descobrir que não se é o centro do universo pode ser doloroso, mas é necessário.
 
A beleza da citada obra de Andrew Solomon talvez venha do fato dele próprio ter por várias vezes se deparado com o monstro sem face da depressão, ou me apropriando de suas palavras ou pensamento, o livro não é catártico, e não se enquadra na vulgaridade dos títulos rotulados como "autoajuda". Merece ser lido sim, e não por acaso que O Demônio do Meio-dia – Uma Anatomia da Depressão, foi vencedor do Prêmio Nacional do Livro nos Estados Unidos e finalista do importante Prêmio Pulitzer. A Shyrley Pimenta meus sinceros parabéns por mais esta importante e bela abordagem.
 
Para mais: 

“O Demônio do Meio-Dia: Um Atlas da Depressão é um livro de memórias escrito por Andrew Solomon e publicado pela primeira vez sob o selo editorial Scribner, da editora Simon & Schuster de Nova York, em 2001.” 
(Wikipédia)


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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