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18/04/2023 às 08h00min - Atualizada em 18/04/2023 às 08h00min

Uma personalidade inflexível

ANTÔNIO PEREIRA
Quando publiquei meu segundo livro de contos,” Sianinha e outros casos”, distribuí exemplares entre meus amigos escritores da cidade e aos membros da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, com sede em Uberaba. Foi com muita honra que entrei no apartamento do dr. Domingos Pimentel de Ulhoa, na avenida Afonso Pena, para entregar o seu exemplar. Conversamos alguma coisa e já me dispunha a sair quando ele me perguntou quanto custava o livro. Como eu insistisse em não lhe cobrar nada, como não cobrei dos outros amigos, ele tomou de uma nota e me estendeu dizendo que não aceitava de jeito nenhum o livro de graça. Tive que receber.

Ele era assim.

Em 1935, instado por amigos, candidatou-se à Câmara de Vereadores e foi eleito. Tudo ia bem até que a politicagem começou a funcionar. Aquela falta de ética e seriedade, aquele desrespeito, e até uma ameaça de morte que não sei se foi feita a ele ou a outro edil, azucrinaram-no tanto que não teve outro recurso: renunciou e não teve medo de dizer que era pela falta de ética, sujeira e desonestidade do meio político.

Ele foi um dos médicos que mais participaram das diretorias da Sociedade Médica de Uberlândia, desde a primeira gestão, quando foi membro do Conselho Consultivo. Na terceira gestão, foi presidente. Para a gestão de 1962/63, os associados se reuniram e decidiram elegê-lo presidente. Era a décima sétima gestão. Quando lhe levaram a notícia de sua eleição, ele simplesmente se recusou a assumir a presidência. Alegava que não tinha sido consultado previamente. E realmente não tomou posse. Assumiu o dr. Adelmo de Oliveira Campos.

Mais para o fim da vida, ele que sempre se envolveu com educação, foi professor em várias escolas, participou ativamente da instalação dos cursos superiores na cidade, principalmente da escola de medicina, da qual foi seu primeiro diretor.

Foi também o primeiro reitor da Universidade (antes dele, o dr. Genésio de Mello Pereira tinha sido reitor pró-tempore). E tudo ia bem até que o Ministério da Educação e Cultura mandou-lhe uma verba de cem mil cruzeiros para a instalação de um restaurante universitário. O dr. Domingos se entregou à obra, porém, mal à começou chegaram novas ordens: que a verba tomasse outros destinos – 50% para a escola de engenharia e 50% para a de medicina. Aquilo desgostou-o tanto que se afastou da reitoria. Para ele era um ato de violência contra a autonomia da Universidade. Ele queria renunciar imediatamente, mas outros baluartes do ensino superior na cidade procuraram-no e lhe disseram que uma renúncia a menos de dois meses da nomeação poderia repercutir mal para a universidade que engatinhava. Ele não voltou atrás, só mudou a forma de afastar-se: pediu uma licença e quando esta terminou, renunciou de vez.

Dizia-se muito feliz em ser pediatra: as crianças lhe ensinavam muitas coisas.

Ele era assim.
 
Fonte: Dr. Domingos Pimentel de Ulhoa


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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