Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
03/03/2023 às 08h00min - Atualizada em 03/03/2023 às 08h00min

Aguardente

WILLIAN H STUTZ
Não há desencanto de amor, paixões bem resolvidas.
Amigos os tenho, poucos. Porém forjados em boa têmpera.
Inoxidáveis, eternos.
Com o Criador mantenho bom cortejo, sem intermediários.
Não confesso a homem que se diz, arrogantemente, santo.
Me deixo levar pela louca vida embriagado e em permanente torpor.
Fardo árduo. Empreita difícil.
Me embriago em busca de centelhas de êxtase, de verdadeira razão.
Me embriago, embriago, embriago.
Atormentado.
Padeço à mingua sim, de vida não correspondida.

Plantio
Quisera eu entender das gentes, pois olhe
Colhi viçosas mudas de grama nascidas em brita, pedra seca e rude
grama cuiabana
plantei em chão fértil, fofa terra de cultura
Morreram todas.
Tem gente que é assim, árida
Lembrei do computador, assim como a brita tem dessas coisas, a ideia vem forte, assim à toa
até que ele liga, pronto a ideia já é outra
Tristeza.

Dois mundos
Caminhos os há, difícil é saber qual seguir. Terra batida, atoleiros ou asfalto.
Caminho cósmico - estrelas. Via Láctea sinalizada - estrada de sonhos. Misteriosa magia. Aquecia por dentro de prazer só de pensar.
Deitada no telhado frio do curral vigiava o mover dos astros. Encantada com a viagem anunciada.
Trecho infinito a percorrer. Belo luminoso. Volta e meia uma luz mais agitada cortava seu campo de visão, de vigília a devaneio. Visitantes estelares ou um simples balão meteorológico a espiar nuvens, mares e ventos? Um paranoico avião espião em busca de novas ameaças imaginárias? Balança a cabeça como a espantar a ideia. Quanta falta de poesia. Eram com certeza alienígenas vestindo impecáveis uniformes prateados. Raça evoluída com ânsia de dividir conhecimento. Gente do bem, vindos de muito longe.
Já os havia visto em ocasiões diversas. Em sonhos, durante enfadonhas preleções matinais na igreja. Durante as aulas de matemática, nos intermináveis almoços e jantares familiares. Principalmente quando tias e primos desconhecidos por lá aportavam - vinham da cidade. Chatos. Principalmente os primos com seus tênis de grife e palavreado entrecortado, meias e preguiçosas palavras sem nexo. Eles cheiravam ar-condicionado e sanduíche de shopping. Debochavam em silêncio de suas roupas e de sua botina mateira.
Mas a presença deles era mais comum à noite, logo depois de seu pai desligar o motor da energia. Eles gostavam muito do escuro ou da fraca luz do candeeiro. Visão acostumada à escuridão do cosmo, devia ser isso.
Uma estrela cadente cruzou o céu, passou raspando a copa da mangueira, iluminou o pasto. Mãe do ouro.
Caminhos os há. E em breve teria que escolher o seu. Não queria a cidade - traçou o dos céus, para lá é que ia longe, bem longe.
Breve, muito em breve.

Melancolia
Lua cheia ontem nasceu amarelo ouro, beleza (in)tensa - imensa - suaviza noite adentro. Solos inflamados de violino em fogo traçam seu musical e celeste caminho seguro.
Torna-se clara, mansa, flutua entre estrelas joias. Sempre só - solitária nobreza. Pausa breve, descansa.
Lenta busca a proteção do horizonte, melancólica se deita - se faz tarde.
Nascerá minguante sedenta agonizante brilho a enfraquecer até se tornar nova bancos de pedra, úmidas tatuagens a combinar com a trilha escura, outra vez cumprindo sina, se torna crescente como a ter pressa se transforma rapidamente melancólica de tão cheia,
Reluzente ciclo - aplausos - eternamente.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90