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14/02/2023 às 08h00min - Atualizada em 14/02/2023 às 08h00min

A sorte de Uberlândia

ANTÔNIO PEREIRA
Todo mundo sabe que os fundamentos econômicos de Uberlândia estão firmados sobre a Estrada de Ferro, a Estrada do Fernando Vilela e a Ponte Afonso Pena. Por quê? Porque todas as mercadorias subidas do Sul para o Centro Oeste paravam em Uberabinha antes de seguir pra frente. E as matérias primas que desciam do Centro Oeste para o Sul também tinham que parar em Uberabinha.

Existe um outro fundamento: a sorte.

A estrada do Fernando Vilela, ligando a Mogiana à ponte Afonso Pena era o pivô dos fundamentos. Os goianos, no entanto, procuravam um meio de suas aquisições ficarem mais baratas. Além do frete da Mogiana, os goianos pagavam a armazenagem em Uberabinha, o lucro dos atacadistas de Uberabinha, os pedágios da estrada do Fernando Vilela e o frete dos motoristas. Os produtos manufaturados chegavam caros a Goiás.

Em 1891 o governo federal estudou a construção de uma estrada de ferro partindo de Uberaba, rumo ao Coxim em Mato Grosso passando pelo Sudoeste goiano. Uberabinha morreria antes de nascer. Em 1902 os estudos foram retomados mas não concluídos. Em 1910, a EF Araraquara retomou as pesquisas, mas desistiu. Graças a Deus.

Em 1914, Quirino Luiz da Costa, de Uberaba, inaugurou o primeiro trecho de estrada que construía no Sul do Triângulo, rumo ao Prata, onde parou. Graças a Deus.

Em 1921, criou-se uma concorrente, a Sociedade Industrial Autoviação Paranahyba que pretendia explorar o tráfego entre Uberabinha e a ponte Afonso Pena, o mesmo que Fernando Vilela utilizava. Foi parar nos tribunais, mas o Vilela ganhou. Graças a Deus.

Na divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso, fundou-se uma cidade com destino semelhante ao de Uberabinha. Três Lagoas. A estrada de ferro Noroeste do Brasil passava por ela e ia até a divisa com a Bolívia. Durante muito tempo liderou o comércio com Mato Grosso. Mas acabou cedendo à agressividade dos motoristas uberabinhenses. Três Lagoa não tinha estrada de rodagem. Não conseguiu deslanchar. Graças a Deus.

No início dos anos 1930, surgiu uma grave ameaça estimulada por jornais e empresários goianos. Pretendia-se construir uma estrada ligando o Sudoeste goiano diretamente a São Paulo. Assim: Uma estrada goiana de Rio Verde ao Canal de São Simão. Foi construída. Uma ponte sobre o Paranaíba, no Canal. Foi construída. Uma estrada atravessando o Triângulo do Canal a Planura (MG), à margem do Rio Grande. Uma ponte sobre o rio Grande. Uma estrada de ferro de Colômbia (SP-outro lado da margem) a Jundiaí (SP). Já estava construída. O primeiro lance da sorte foi que a ponte sobre o Canal caiu quando estava quase no fim o deu tempo para que os interesses políticos de Uberlândia fizessem o governo mineiro desistir da absurda parceria na construção da estrada dentro do Triângulo. Nem participou nem autorizou a construção.
 
(fonte: dados colhidos no livro AS ESTRADAS PIONEIRAS DO BrASIL, do A. do artigo)     
 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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