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07/02/2023 às 08h00min - Atualizada em 07/02/2023 às 08h00min

Um corpo intacto no cemitério

ANTÔNIO PEREIRA
O primeiro cemitério de São Pedro de Uberabinha foi construído em torno da capela curada de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião Mártir no lugar onde esteve a Biblioteca Pública Municipal. Era o costume.
                           
De meados do século passado até 1881, o cemitério esteve naquele lugar, que se chamava Largo da Matriz. De 1881 para cá, ele foi transferido para a atual praça Clarimundo Carneiro. Essa praça nem nome tinha, já que o povoado acabava antes de chegar nela. O Agente Executivo João Severiano Rodrigues da Cunha, o Joanico, foi quem desativou esse cemitério para a construção da praça e do prédio da Câmara Municipal, obra do arquiteto italiano Cypriano del Favero.
                           
O capitão Pedro Machado Rodrigues da Silveira, natural da região do Alto Paranaíba, nas proximidades de Patrocínio, mudou-se para Uberabinha em 1875, por motivos políticos. Tronco de tradicional família, foi homem muito dedicado ao desenvolvimento do velho Distrito. Foi “médico” homeopata, político, coletor estadual, juiz de paz; dedicou-se com muito empenho à causa da emancipação do Município e, como membro da comissão para a aquisição de prédios necessários à sua instalação, construiu a cadeia pública e a escola. Foi um líder político “cocão”, unindo-se aos coronéis Severiano Rodrigues da Cunha e Manoel Alves dos Santos, responsáveis por uma célebre rebelião que quis expulsar da cidade o Juiz de Direito, dr. Duarte Pimentel de Ulhoa e o Vereador Augusto César.
                           
Casou-se com dona Francisca Rosa de Assis Silveira, conhecida por “dona Chiquinha”.
                           
Entre seus vários filhos, dona Ernestina Machado da Silveira, que se casou com Herculano Ferreira, foi mulher de extrema bondade, dada a atos caridosos quase sempre sem conhecimento do marido, que era muito parcimonioso.
                           
Com a ajuda de um escravo chamado Gaspar, conseguia doar roupas e agasalhos, às escondidas, aos necessitados. Ela própria confeccionava as peças e as relacionava a quem distribuía-las.
                           
Quando faleceu foi enterrada no Cemitério Municipal localizado onde está a praça Clarimundo Carneiro.
                           
Passados anos do seu falecimento, os coveiros João José e Sérgio, ao abrirem velhas covas para novos sepultamentos, depararam com o corpo de d. Ernestina em perfeito estado de conservação, com as roupas e os galões muito bem conservados. Assustados com o achado, correram a relatar o fato ao padre Pio Dantas Barbosa. O pároco mandou que se recobrisse o corpo e se abrisse outra sepultura. Determinou-lhes também que mantivessem o mais estrito segredo sobre o que tinham visto, alegando que comunicaria tudo ao Bispo.
                           
O relator desse fato, um ex-escravo da família, pedreiro liberto Marinho Machado da Silveira, que, em 1912, morava na rua Guarany, não soube dizer que providências se tomaram, mas parece que nada se fez de objetivo, pois, se algo se fizesse, logo se tornaria público.
                           
É possível que os restos mortais da piedosa Ernestina, como dos demais sepultados naquele logradouro, continuem lá, sob as plantas do jardim que o Joanico mandou construir.
 
(Fontes: ten. Ivan Barreto Lelis e Tito Teixeira)


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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