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24/01/2023 às 08h00min - Atualizada em 24/01/2023 às 08h00min

Galiano, um comerciante gentleman e alegre

ANTÔNIO PEREIRA
Galiano Torrano, filho de italianos, nascido em 1898, em Cajuru, Estado de São Paulo, chegou a Uberabinha em 1918 e foi trabalhar como caixeiro (balconista) no armazém do Carmo Giffoni. Aí conheceu Gumercindo Silva e com ele, mais o Gumercindo Ferreira, de Rio Verde, fundaram uma das mais importantes casas comerciais da cidade: a Casa Galiano, que ficava na esquina da rua da Justiça (Quintino Bocaiúva) com a avenida Floriano Peixoto.
 
Galiano tinha um temperamento alegre, bonachão. Certa vez, ainda caixeiro do Giffoni, comprou um bilhete de loteria. Seus amigos deram um jeito de registrar na tabuleta que informava o resultado o seu número em primeiro lugar. Galiano fez uma festa que durou dias. Naquele tempo o dinheiro do prêmio custava a chegar. Como não chegava nunca, os amigos contaram-lhe a brincadeira e ele não fez nada além de rir muito da molecagem.
 
No começo, sua firma ficava na avenida Afonso Pena, entre as ruas Machado de Assis e Tenente Virmondes, só depois foi para a Floriano Peixoto, onde se transformou no maior atacado da sua época. Quando a empresa começou, com uma variedade imensa de produtos nacionais e importados, a grande Teixeira Costa & Cia já estava encerrando suas atividades. Havia o Rezende & Cia com área especializada, ferragens, João Calixto começava, Capparelli se desenvolvia e a Casa Galiano tornava-se conhecida em Minas, Goiás e Mato Grosso, como uma das maiores. Era comum em suas portas enfileirarem-se três a quatro caminhões aguardando carga. Para a época era demais.
Algum tempo depois, admitiram, no lugar do Ferreira, o Cândido Ribeiro e montaram a primeira casa de material de construção. O Candinho (pai da ex-vice Prefeita Niza Luz) é que tomava conta dessa parte. Faziam também construções utilizando-se dos trabalhos técnicos do dr. Luiz da Rocha e Silva (engenheiro) e do Mário Bombonato (desenhista – que, depois, foi advogado).
 
Embora possuísse apenas um quarto da empresa, Galiano era o centro em torno do qual giravam os negócios. Um gentleman que sabia cativar a freguesia, com muitos amigos por todo o Brasil Central.
 
Era animador de festas que realizava em sua casa, em sua fazenda ou nos clubes locais, sempre com muita magnanimidade. Ligado aos políticos, era coió. Marcava quadrilha em italiano. Foi membro da Associação Comercial, do Rotary Centro e da Loja Maçônica Luz e Caridade. Era um gordo alegre, festeiro, amigo da boa mesa, da bebida de qualidade, mão aberta que ajudava a quem necessitasse, brincalhão. Não havia campanha nem abaixo assinado beneficentes que não tivessem sua assinatura logo de início. Pioneiro das providências sociais, foi o primeiro a dar participação nos lucros aos seus empregados: cinco por cento todo ano.
 
Galiano levava os clientes que vinham de longe para almoçar em sua casa. Dona Maria, a esposa, era exímia cozinheira tanto nos pratos caipiras quanto na cozinha italiana.
 
Numa das etapas dos seus negócios, Galiano, Gumercindo e Candinho alugaram a fábrica de ladrilhos do João Schiavinatto e passaram a produzir tijolos de tamanho maior do que o tradicional, pias, pedras e soleiras de granito.
 
A Casa Galiano tinha todos aqueles produtos tradicionais do velho comércio brasileiro do interior: querosene Jacaré, gasolina enlatada, guaraná Espumante (Antarctica), sal Diamante (que vinha a granel pelos vagões da Mogiana), machados Colleman, azeitonas gregas, vinhos portugueses, enxadas Duas Caras, louças, cerveja preta Níger, bacalhau, burrinho de encher pneus Michelin etc etc etc...
 
Em 1945, o destino fechou a cara para o alegre Galiano e levou-o através de um colapso que sofreu no Hotel Gontijo, em Belo Horizonte, ao lado da farmácia dos seus velhos amigos e correligionários coiós, Adolfo e Fábio Fonseca. O Fábio ainda tentou reanimá-lo aplicando-lhe uma injeção que não surtiu qualquer efeito.
                           
Era 17 de setembro.
 
Fonte: Milton Torrano


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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