Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
20/01/2023 às 08h00min - Atualizada em 20/01/2023 às 08h00min

Engano

WILLIAN H STUTZ
E eis que mais uma sexta chegou. Fiquei a pensar no que escrevi semana passada dia 06/01, falei do banho de descarrego que despencou na virada do ano, inocentemente acreditando que seria um lavar de um ano pesado, estranho e que, o 2023 que se abriu em chuva e suas enxurradas caudalosas como grandes rios perenes em fúria, lavariam e carreariam tudo de ruim bocas de lobo adentro, drenando tristezas, ódios, rancores, estupidezes e insensibilidades buracos abaixo abertas como goelas para as profundezas do esquecimento, da parte ruim de gentes. Pensei em campos floridos onde poderia se correr sem medo, sem sobressaltos. Pensei céu de um azul de doer olhos, imensos e portentoso pela sua própria existência. Onde nossas hamadríades tropicais poderiam finalmente, cada uma, proteger suas árvores sagradas: a vinha seria aqui nosso cipó-titica em abundância para nossas cesteiras da floresta que, em suas aldeias, entoariam cantigas de alegria em louvor a proteção de suas terras. A figueira, nosso belo Mogno e a aveleira, nosso Jatobá.

Mas para nosso horror, o filho da ninfa Carya e Zeus, Dirio o deus das plantas venenosas, deixou marcas profundas no coração de muitos e o resultado pode ser visto por todo o planeta via imagens reais e ao vivo em um 8 de janeiro que, se por um lado deve ser sempre lembrado para nunca mais acontecer, deve também ser enterrado na mais profunda e escura cova da história.

Posso e com firmeza lhes dizer, aperto assim, nó na garganta como este senti a última vez quando daquele 11 de setembro de 2001 – ambos atos terroristas e, claro, guardo bem aqui as proporções devidas e consequências.

As cenas mostradas ali bem à nossa frente por todos os canais de televisão poderiam ser tiradas de algum episódio de The walking dead. 
Me trouxe assim do nada à memória, o humor fino de Henfil e seu tamanduá que sugava o cérebro das pessoas, acredito que esse tamanduá já vinha trabalhando há pelo menos quatro anos e deve estar imenso de gordo. Outro que teria (terá) muito trabalho é o Cabôco Mamadô, outro personagem também de Henfil, que era, digamos, zelador de um cemitério de mortos-vivos. Haja espaço…

Além do ataque claro à democracia, a depredação não se restringiu ao significado dos prédios maculados pela horda em fúria.

Pedra e vidro podem ser reconstruídos e restaurados. Mas o patrimônio artístico danificado vai além da compreensão. Ou não. Quem participou disso não sabe distinguir um Di Cavalcanti de uma folhinha de mulher pelada de borracharia. Quem destrói “um raríssimo e histórico relógio de Balthazar Martinot, de valor inestimável. O relógio de pêndulo do século XVII foi um presente da Corte Francesa para dom João VI. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor do item é considerado fora de padrão.” (Fonte: sitehttps://www.metropoles.com/)

Ufa! E janeiro só na metade. Agora é acompanhar as apurações de responsabilidade e que a lei se faça cumprir sem essa de passar a mão na cabeça de ninguém.

Matutando, com essa loucura da pandemia, vi e revi filmes em quantidade. Lembrei de alguns depois desse fatídico dia 8/01.

Troia, de 2004, estrelado por Brad Pitt. Aqui os invasores gregos se estrepam mesmo tendo um semi-deus na tropa;

O mais longo dos dias de 1962, direção de Ken Annakin, Andrew Marton e Bernhard Wicki – 1962 com ninguém menos do que Henry Fonda, John Wayne, Robert Mitchum, Sean Connery entre outras grandes estrelas, “filme P&B mais caro da história”. No dia D a causa era nobre, derrotar o nazi-fascismo de Hitler e libertar a Europa

E claro, Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City na versão original, nada de zumbizar em telhado de congresso feito desorientado se achando “revolucionário” Mazzaropiano. Que me perdoe o grande e respeitado ator, me remeto apenas ao seu principal personagem.

O furacão anti-democratico passou, mas sabemos todos que enquanto não forem punidos com rigor todos os atores desta tragedia histórica sempre haverá alguns menos letrados no certo/errado, querendo bagunçar o coreto pátrio.

Nos resta a permanente atenção e se não for pedir muito outro banho de descarrego, muito incenso e velas e claro rezas para que os Orixás olhem por nós.

 
 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90