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17/01/2023 às 08h00min - Atualizada em 17/01/2023 às 08h00min

Crítica em termos

ANTÔNIO PEREIRA
Em 1967, em comemoração ao centenário da grande guerra do século XIX, a Guerra do Paraguai, o governo federal resolveu fazer passar uma tocha simbólica pelos caminhos vencidos pelo 17º Batalhão de Voluntários da Pátria, constituído, na sua maior parte por soldados mineiros protagonistas trágicos da Retirada da Laguna.
 
Quem comandava o evento era o general Flamaryon. Entrou em contato com o prefeito Renato de Freitas e pediu que o povo estivesse na praça Tubal Vilela às tantas horas para receber a tocha. Renato chamou o secretário de Turismo, Eweraldo Coutinho, para providenciar e aglutinar gente na praça. O secretário ficou aturdido. A coisa era para amanhã. Eweraldo saiu como um doido por aí e, à tarde, confessou que não tinha conseguido nada. Renato me chamou (eu era o Secretário de Ação Social, que englobava a Educação) e me mandou convocar todas as escolas municipais e estaduais para estarem, no dia seguinte, às tantas horas na praça Tubal Vilela. Também saí como um doido. Fui a todas as escolas municipais e às estaduais, depois de pedir autorização e apoio da Delegacia Regional.
           
Dezoito horas, palanque armado no lugar de costume, a meninada agitando bandeirinhas do Brasil, chega o general, é recebido respeitosamente por nós todos, sobe ao palanque, ajusta-se à frente dos políticos, estende os olhos pelo mar de cabecinhas miúdas e bandeirinhas de papel, volta-se irritado para o prefeito e começa a decompô-lo, visivelmente irritado.
           
- Eu pedi homens na praça e não meninos...
           
Antes que dissesse a palavra seguinte, Renato segurou-o pelo cotovelo e sussurrou-lhe ao ouvido:
           
- General, admito críticas em termos, não assim...
           
Flamaryon olhou surpreso para o prefeito e calou-se. Ninguém ousava peitar um militar naquele tempo, ainda mais um general.
           
A tocha passou, os meninos aplaudiram, o prefeito convidou o general para visitar a prefeitura no dia seguinte.
           
Flamaryon foi e Renato juntou seu staf e foi apresentando cada um: Dr. Fulano, secretário disse: Dr. Sicrano, secretário daquilo... e, ao final, sorrindo, completou: Quem não era doutor, ficou sendo agora.
           
E a tocha seguiu por um caminho estranho por onde nunca passou o 17º Batalhão. Em Monte Alegre, onde a coluna passou e deixou alguns heróis vitimados pela varíola, o povo ficou estupefato: a tocha nem lhe deu nem um “tchum”.
           
A maçonaria montealegrense arrepiou, formou comissão mista, e foi até Brasília reclamar do esquecimento. Receberam desculpas e o compromisso de tombamento do cemitério dos heróis da Retirada. Por algum tempo, o monumento foi conservado.
           
Hoje tá lá, do jeito que tá...       

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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