Tubal Vilela tinha prometido, na campanha, construir um estádio municipal. E realmente se dispôs a isso. Desativou o cemitério que havia na estrada para a ponte do Marquinho (avenida Afrânio Rodrigues da Cunha), limpou e planou o chão e fincou as traves. Seus adversários políticos, e a população em torno do campo (poucas casas), ficaram preocupadas com a poeira “maligna” que subia das obras. Não deu certo, Tubal cedeu o campo para o Ypiranga, do Odilon Guaratto, que só apanhou lá. Diziam que eram as almas dos corpos enterrados ali que se vingavam da invasão das suas terras.
Há histórias daquele campo.
A inauguração do estádio, não apurei a data, foi feita entre o Fluminense Futebol Clube e o Goiás Esporte Clube, de Goiânia. O Fluminense era um dos grandes times amadores da cidade (ainda não havia o profissionalismo). Tido por muitos como melhor que o UEC. Vários jogadores seus, mais tarde, ilustraram a equipe do Uberlândia Esporte Clube. Seria uma bela partida. Um dos atletas mais destacados e admirados pela torcida do Fluminense era o “Bacana”. No dizer do Luiz Cunha, o “Bacana” era o tipo de jogador clássico. Um center-half (hoje, quarto zagueiro) elegante, de postura impecável dentro do campo. Mas era também um temperamental. À toa perdia a cabeça.
O Goiás também tinha o seu “ás”. Era o “Caixão”. Rapazinho atrevido, cracão de bola. Coube ao “Bacana” marcar o “Caixão”. Naquele tempo tinha disso: cada jogador da defesa tinha que marcar, anular, um atacante adversário. Só que o “Caixão” era o capeta em campo. Exímio driblador, rápido e, ainda, por cima, gozador. Driblou e abusou tanto do “Bacana” que o sangue ferveu na cabeça do clássico atleta. A elegância foi pro espaço e “Bacana” meteu-lhe uma botinada que quase arrancou a canela do rapaz. Tinhoso também, o “Caixão” caiu estrebuchando, rolando, gemendo.
Naquele tempo, não tinha cartão vermelho. O juizão simplesmente ergueu o braço na horizontal e, dedão em riste, mostrou o lado de fora do campo para o “Bacana” que saiu indignado, mas vingado.
Não obstante a decisão enérgica do árbitro, o “Caixão” continuou caído, gemendo e rolando na poeira “maligna”.
Já que o atleta era o “Caixão” e estava jogando num cemitério, a torcida deu logo solução à manhã do goiano e começou a gritar:
- Enterra! Enterra! Enterra!
Sem entender bem o que o povo gritava, o “Caixão” se levantou depressa e reentrou no jogo.
Perdemos. A inauguração foi frustrante..
Fonte: Luiz cunha e Alberto de Oliveira
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.