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13/12/2022 às 08h00min - Atualizada em 13/12/2022 às 08h00min

Subsídios para uma história do futebol em Uberabinha

ANTÔNIO PEREIRA
No livro “História do Futebol em Uberaba”, editado pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro, em 1972, o historiador Hildebrando Pontes fez um levantamento de todas as equipes e jogos ocorridos naquela cidade até 1920. Dá para se colher, dali, algumas informações valiosas para se levantar a História do Futebol em Uberabinha.
                          
Considerando-se que a rivalidade entre as duas cidades é antiga e se firmou com mais consistência na área esportiva, acho interessante relatar alguns embates registrados pelo escritor.
                          
Curiosa, por exemplo, é a resenha do jogo entre o Ipiranga Atlético Club (de Uberaba) e o Rio Branco Futebol Clube (de Uberabinha). O Rio Branco foi um dos primeiros times formados aqui, antes do Uberabinha Sport Club. Treinava tanto na praça da República (Tubal Vilela) quanto no estádio Misericórdia, campo que havia na avenida Cesário Alvim, atrás da Santa Casa.
                          
O jogo foi em Uberaba, no dia 19 de agosto de 1917, no campo do Ginásio, e foi o primeiro entre uma equipe daqui e outra de lá. Naquele tempo, um jogo entre times de cidades diferentes era um acontecimento social. Já na estação da Mogiana o Rio Branco foi recebido festivamente. Antes da chegada dos atletas distribuíram-se folhetos pela cidade saudando os visitantes. Diziam:
                                      
“Pela primeira vez nos visitam                 
Os esportistas da cidade vizinha;
À nossa terra sejam bem vindos
Os arautos de Uberabinha.
 
No campo, famílias, cavalheiros e estudantes. Mas, foi um vexame! Apanhamos de cinco a zero! O nosso esquadrão formou com França, Ataliba e Caetano; Antônio, Martinho e Chiquito; Rafael, Machado, Carlos, Nelson e Chiquinho. O jornal “Lavoura e Comércio” fez uma descrição pormenorizada do jogo que o livro transcreveu. Pelo menos duas anotações são curiosas; o fato de o goleiro de Uberaba só ter defendido um chute uberabinhense, e a surpreendente anotação de que: “Carlos fez a única falta do jogo!” (grifo nosso). Carlos era o nosso centro avante (na época “center four”).
 
Nos seis jogos seguintes, fomos derrotados três vezes, empatamos duas e ganhamos uma.
 
O grande vexame foi a 6 de maio de 1920, quando levamos a maior surra da história. O Sport Club Uberabinha enfrentou o Uberaba Sport, lá, e apanhou de nove a um. Os infelizes sofredores desse descalabro foram: Fefé, Schille e Acrísio; Paco, Ari e Chico; Teodoro, Ermelindo, (?), Lopes e Pedro. Um mês depois, voltamos lá e jogamos contra o mesmo Uberaba Sport e apanhamos de apenas dois a um.
                          
Um dia, houve, enfim, o troco para essa série de derrotas. Em 1931. Quem me contou isso foi o querido e saudoso Ramiro Pedrosa, cuja fala reproduzo:
                      
“... nós tínhamos uma paixão, sempre foi isso, sempre é e continua sendo, a rivalidade com Uberaba.  O Juca (Ribeiro) convidou o Uberaba (Sport Club). O treinador disse que não poderia mandar o Uberaba. Ele já tava sabendo alguma notícia do nosso time. Mandou um combinado, com camisa diferente. Mas, quando chegou, nós vimos que era o Uberaba Sport inteirinho... Ganhamos de dois a um.”
“... Aí, o Juca tenta o Uberaba de novo. O tal Sebastião Braz (técnico) alega que não tinha condições, etc, mas podia mandar um combinado. Era de novo o Uberaba completinho. Com camisa diferente. A gente até dava risada. Acabamos ganhando de três a zero.”
                          
“... Até que o Juca torna a convidar e resolveram trazer o Uberaba. Aí já foi em 27 de setembro de 1931. Veio o Uberaba Sport inteirinho. Precisava ver que luxo! Que fantasia! Em muitos deles até a chuteira era vermelha! Que coisa de doido! Entraram com umas bandeiras enormes! Hoje é comum ver bandeira enorme, naquele tempo, não. A gente até ficava assustado. Pra impressionar mesmo. Entramos nesse campo, foi aquela guerra. Primeiro tempo: três a zero! Tinha um jogador deles que jogava muito bem. Chamava-se “Tintas”. Muito alinhado, parecia até ser instruído. Ele ficou nervoso absurdo. Disse que a bola era muito grande. Que tínhamos exagerado. Que tínhamos que por outra bola em campo. Naquele tempo era uma bola só. Comprava aquela bola pr’aquele jogo. Ele pediu um canivete lá, e furou a bola. Aí foram dar um jeito noutra. Daí a pouco, voltaram com a mesma bola. Foram lá dentro, trocaram a câmara de ar e voltaram. Dez minutos. Acabamos ganhando de cinco a zero do Uberaba. Pra mim, foi minha realização! Era o que eu queria desde menino: quando eu crescer, quero jogar contra o Uberaba. Não era só eu, não. Era todo menino. Não me lembro quem marcou os gols, mas o Woninho sempre marcava...”
                          
O esquadrão que impingiu a maior derrota ao Uberaba Sport Club em jogos contra o Uberabinha Sport Club (e mesmo depois, no tempo do Uberlândia Esporte Clube) foi o seguinte: Nagato, Mexicano e Turco; Ramiro Pedrosa, Catanduva (considerado o melhor jogador do UEC de todos os tempos – hoje é nome de rua) e João Adão; Vicente, Catalão, Woninho, Agenor e Getúlio.
                          
OBS: Os trechos entre aspas (“”) foram retirados de entrevista concedida pelo Ramiro Pedrosa ao autor em setembro de 1988.
                                                                                                                    
Fontes: Hildebrando Pontes, Ramiro Pedrosa e jornal “A Notícia”.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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