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09/12/2022 às 08h00min - Atualizada em 09/12/2022 às 08h00min

Retrospectiva 2022

WILLIAN H STUTZ
Ia começar falando da derrota do Brasil para Camarões, mas isso já foi e virou parte da retrospectiva que agora tento rabiscar. Hoje tem Brasil versus Croácia. Não tenho nem palpite depois dos africanos.
 
Outra coisa em relação a esta copa é que nem parece copa. O eterno e exagerado ufanismo Galvaniano e seu “copa é tudo de bom” parece não estar mobilizado multidões. Assisto pelo Youtube do Cassimiro aliás, segundo ele é a primeira transmissão ao vivo de uma copa por aquele site. É mais divertido.
 
Como disse ia começar pela derrota da seleção. Mas hoje (momento em que o texto foi escrito) em plena manhã de domingo já rolou uma situação antológica e mesmo sendo de trás para diante tem que ser contada. Dia nubladaço, calorento tudo para chuva. Mas nem sinal dela por enquanto. Vou eu ao Supermercado buscar coisas faltantes, tipo água sanitária, filtro de café, frutas e folhas e, claro, uma cervejinha que ninguém é de ferro. Fiz uma lista no meu WhatsApp.
 
Sabe aquela lista que você faz, mas não olha e acaba comprando tudo de cabeça mesmo? Pois é foi assim e obviamente ficou coisa sem comprar. Passo no caixa, converso com a moça e com o embalador, pago, pego meu carrinho e saio em pensamentos. Quase chegando ao carro o rapaz das embalagens vem às carreiras e me grita: “Senhor, esqueceu as compras”. Parei acordando de meu pensar, olho para o carrinho e pelas grades dele vejo o piso do estacionamento e só. O carrinho vazio arranhava o chão com seu característico som agudo e chato. Nem uma sacolinha. Certo, eu sendo eu. Voltei balançando a cabeça para ouvir a moça do caixa rindo “assim também não...” rimos e juntei as sacolinhas que raramente levo, e pronto.
 
Assim do fim para o começo a retrospectiva se inicia. Mas voltemos a uma linha qualquer do tempo a retrospectiva é mais minha do que do ano. Todos deviam fazer uma, é terapêutico. O viver sozinho. Uma casa vazia, um livro por escrever, muitos por ler na estante me observam impacientes. Faltam letras sobram indecifráveis sentimentos ou talvez indescritíveis que não cabem em palavras.
 
Janeiro 22 já começou esquisito. A virada do ano foi pouco barulhenta exatamente como essa copa anda meio muda. Talvez a pandemia tenha assustado demais as gentes, pelo menos eu fiquei de orelha em pé. A quantidade de gente amiga que se foi ainda dói e sei que vai doer para sempre. Mais reza do que fogos e mesmo assim, cada espocar lembrava uma alma.
Fiz uma escolha pelo silêncio, pelo menos falar. Se me cortam em meio a frase, suspiro e deixo ficar.
 
O fim de querer discutir. Esta nova era me trouxe a isso, o não bater boca por conta de quase nada. A frase interrompida, suspiros de tolerância. Ano novo bem que podia ser diferente.
Nunca vivenciei época assim, deu a louca no mundo. Uma guerra sem fundamento, a Rússia em surto psicótico invade a Ucrânia. O mundo finge que importa, mas o véu da morte cobre um país que diuturnamente tem seu céu riscado por mísseis no lugar de passarinhos. E o mundo olha, mas como disse, simula indignação.
 
Comemoramos 200 anos de independência de colônia a “liberdade”. A história nos mostra que tal passagem não nem um pouco glamoroso como tentam nos vender nas escolas através da obra de Pedro Américo. A conjuração Mineira carece revisão sob a lente da total imparcialidade.
 
E a participação das mulheres nunca mencionadas? Já ouviram falar de algumas delas?  Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, Bárbara de Alencar, Urânia Vanério, Maria Felipa de Oliveira, Maria Quitéria de Jesus, Maria Leopoldina da Áustria e Ana Lins?
 
Recomendo a leitura de Independência do Brasil: As mulheres que estavam lá de autoria de Heloisa M. Starling e Antônia Pellegrino. Muita coisa não nos foi dita. E tivemos eleições para presidente. Assunto ruim de ser lembrado, não pelas eleições em si, mas pelo fato de termos nos tornado dois Brasis.
 
Nunca nossa infante democracia foi tão achincalhada. Aguardo ansioso o primeiro de janeiro para que tudo volte ao normal mesmo sabendo que antes amigos, nunca mais se falarão, antes amantes não mais se deitarão em ternura. O amor saiu machucado, 2022 nos presenteou com esta crueldade.
 
A pandemia finge sumir, mas se esconde em tocaia sabendo que muitos não acreditam que ela existiu de verdade não se vacinaram que as quase 700 mil almas se foram por conta de gripezinhas e que iriam de qualquer maneira.  Eita ano para nos mostrar tanto e ao mesmo tempo tão pouco sobre nós mesmos. E que em 2023 onde depositamos tanta esperança, não falte o pão e a fraternidade entre os homens e uma borracha apague as partes ruins de um ano que apesar dos pesares, a ele sobrevivemos.
 
Que venha um ano novinho em folha embrulhado para presente, mas sem cavalos de Tróia para nos atormentar no mais básico alimento da alma humana. Fechando, o Brasil ganhou da Coreia de 4, que coisa né! Rumo ao hexa. E quando estes rabiscos forem para as páginas do Jornal, estaremos frente a frente com a Croácia. Quem venham, e que nossa seleção mostre o mesmo brilho apresentado frente aos coreanos.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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