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06/12/2022 às 08h00min - Atualizada em 06/12/2022 às 08h00min

O grupo escolar mais antigo

ANTÔNIO PEREIRA
Nos primeiros dias de maio de 1911, o Presidente do Estado de Minas Gerais, Júlio Bueno Brandão, passou duas vezes por Uberabinha. Da Capital ao Triângulo, era uma viagem muito difícil. Havia que se passar pelos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo e reentrar em Minas Gerais por um trem da Mogiana tomado em Campinas. Bueno Brandão chegou acompanhado de diversas autoridades estaduais e algumas de Uberaba onde tinha feito uma parada. Mais ou menos, às 9 horas da manhã, o trem chegou à estação que ficava na avenida João Pessoa (que se chamava, à época, avenida da Estação), defronte à avenida João Pinheiro. Naquele tempo, a estação ficava no meio do cerrado.
 
A gare estufava de gente, populares e políticos, entre estes, o Alexandre Marquez (Agente Executivo); o líder do partido “cocão”, que era o coronel Severiano Rodrigues da Cunha; o líder do partido “coió”, que era o tenente coronel José Theóphilo Carneiro; o promotor de justiça, dr. Manoel Lacerda; o médico Eduardo de Oliveira Martins; o engenheiro construtor das estradas pioneiras do Fernando Vilela, Ignácio Pinheiro Paes Leme; o comerciante português José Loureiro Bexiga e os professores José Avelino e Honório Guimarães. E o povo.
 
O Presidente desceu do trem sob intensa aclamação. Fez um ligeiro lanche no restaurante da estação, retomou o trem e seguiu para Araguari. Ficou nisso, a primeira visita. Quando foi às 19 horas e 30 minutos do mesmo dia, voltou. A estação estava, de novo, apinhada. O Presidente desceu e, ali mesmo, foi saudado entusiasticamente pelo professor José Avelino, um dos grandes oradores da terra. Houve palmas e vivas. Hermelinda Parreira, aluna da primeira cadeira estadual do sexo feminino (era assim que se chamavam as escolas primitivas, compostas de uma classe só, separadas pelo sexo dos alunos), fez um discurso que Bueno Brandão agradeceu com um beijo.
 
A seguir, como era um bom populista, o Presidente desceu a pé pelo trilheiro arenoso que era a deserta avenida Afonso Pena. O povo aclamava-o pelo caminho. Foi até um hotel, possivelmente o do Comércio, que ficava na praça da Matriz (Cícero Macedo), do José Loureiro Bexiga, que era o mais conhecido, onde a Câmara Municipal ofereceu-lhe um jantar de cem talheres. José Loureiro Bexiga era português, de José de Oliveira Guimarães, um dos fundadores da Associação Comercial e do Praia Clube e proprietário da extinta e conhecida “Casa Guimarães” que ficava na avenida Afonso Pena. Durante o jantar, em nome da Câmara Municipal, saudou-o o Vereador João Severiano Rodrigues da Cunha, mais conhecido por “Joanico”, futuro Agente Executivo, um dos melhores administradores (senão o melhor) que Uberlândia já teve.
 
Nesse discurso, Joanico pediu um Grupo Escolar para a cidade.  O Presidente respondeu à saudação com uma oração onde brindava a política da paz e do trabalho. E prometeu dar o Grupo Escolar. Terminado o jantar, Sua Excelência dirigiu-se ao Cine Theatro São Pedro, que ficava ali pertinho, na rua Felisberto Carrejo, onde lhe foi oferecida uma sessão cinematográfica. Dali, voltou para a Mogiana, agora, de carro (certamente um trólei – que era uma charrete com quatro lugares, puxada por dois animais), sob aclamação do povo pelas ruas.
 
No dia 13 de maio de 1911, o cronista P. Cunha, do jornal “O Progresso”, emocionado escrevia: “Em, homenagem a esse dia... ele nos dará, ó Santo Deus! Nos dará um Grupo Escolar!!!” – calcula-se, pela emoção do jornalista, o quanto era importante para um lugarejo como Uberabinha, ter um Grupo Escolar, talvez mais que uma Faculdade para uma metrópole dos nossos dias. Sugere o articulista que se construa o Grupo numa praça que levaria o nome de “Praça da Paz” e que se chamasse Grupo Escolar Júlio Bueno Brandão.
 
A cidade dividiu-se com relação à localização dessa Escola. Uns queriam-na na praça da República (Tubal Vilela), outros, no Cemitério Velho (Clarimundo Carneiro), A escolha, enfim, deu-se pelo próprio engenheiro do Estado que recusou a oferta da Câmara (Cemitério Velho) e preferiu o terreno da praça da República. O terreno era pequeno e a Câmara teve que adquirir a área anexa. Os terrenos para a construção do Grupo, iam da praça da República até a rua América (Santos Dumont) e correspondem, atualmente, às áreas onde estão a Escola Estadual Bueno Brandão e o Uberlândia Clube. Foram doados ao Estado pela Lei Municipal no. 145, de 4 de novembro de 1912. Terminada a construção, foi nomeado Diretor o professor Honório Guimarães. As matrículas começaram a ser tomadas a partir de primeiro de setembro de 1914.               Os retratos do Presidente e do Vice-Presidente do Estado, que ficariam no Salão Nobre da Escola, foram pintados por Joaquim Gasparino, de Uberaba. A distribuição dos meninos e meninas (entre 7 e 16 anos) pelas classes foi feita em outubro e novembro e as aulas deveriam começar em dezembro, mas começaram, de fato, em fevereiro de 1915.
 
Fonte: Jornais da época


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