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29/11/2022 às 08h00min - Atualizada em 29/11/2022 às 08h00min

Conversa com Dona Domingas

ANTÔNIO PEREIRA
O pioneiro José Camin | Foto: Divulgação
Essa conversa foi em 1987. Dona Domingas fabricava queijos, tinha sido professora do município e era uma liderança onde morasse. Ela me contou o início dos Camin na velha Uberabinha:

“O primeiro a chegar aqui foi o José Camin, meu tio. Meu pai ficou em Mococa, meu avô em São Paulo e o José Camin veio para Ribeirão Preto chefiar uma turma de trabalhadores da Mogiana. Veio em companhia de um amigo velho, o Noé Focs. Era um homem muito trabalhador e muito fiel. Ficaram uns anos na Mogiana até chegar aqui. O Noé abria cisternas para abastecimento das máquinas. Ainda deve haver algumas nas velhas estações. Em 1889 houve a Proclamação da República. Os estrangeiros que residiam no Brasil foram considerados brasileiros por um decreto. O José Camin era italiano, não se naturalizou, mas virou brasileiro. Tanto que na Grande Guerra não lhe confiscaram nada e ele pode até ser vereador.”

“Ele gostou daqui. Havia umas terras devolutas e ele resolveu comprar essas terras. O lugar se chamava Curralinho, onde tem a fazenda do Capim. Ele foi a Uberaba, comprou esses terrenos e saiu da Mogiana. Foi trabalhar como agrimensor e o Noé ficou com ele. Mais de cinquenta anos. Hoje, o Noé está enterrado na fazenda Córrego do Capim, numa igrejinha no alto de um morro. Ele e o José Camin. O Camin era fazendeiro. Foi o primeiro a usar arado chapa nova. A primeira plantação de abacaxi também foi dele. Foi um pioneiro do café. Escreveu dois livros: um sobre o plantio do café, outro sobre a eletrificação do Pau Furado. Foi vereador uma vez só, não tinha tempo para isso.”

“Nessa época, Santa Maria ainda tinha um certo brilho, mas começava a decair. Uberabinha começou a se desenvolver por causa da Mogiana. O progresso pendeu pra lá e Santa Maria ficou esquecida.”

“Meu pai morava em São Paulo. Foi de Mococa pra São Paulo. Lá ficou até morrer. Eu vim pra cá em 1933. No dia 30 de novembro. Eu vim casada, viemos tentar fortuna. A convite de meu tio, fomos morar na fazenda dele. Trabalhei nessa fazenda por 30 anos, fabricando queijo prato Camin. Quando meu tio faleceu, aluguei uma casa no Quilombo e continuei a fabricar queijo. Era o meu ganha pão.”

“José Camin foi músico. Era da banda do meu pai, Pedro Ângelo Camin, irmão dele. Tocava flauta. Além dele, outros dois músicos vieram para cá. Os músicos eram colonos, analfabetos, mas sabiam ler música. Isso era muito curioso. Nos dias de festas, a banda ia pra Mococa”

“Na fazenda do meu pai, tinha uma venda de secos e molhados e uma padaria, tudo dele. A gente tinha a mania de construir igrejas. Meu pai construiu uma em Comendador Guimarães, o José Camin construiu outra lá no Cruzeiro dos Peixotos e eu construí esta aqui... ajudada por muita gente, é verdade.”



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