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01/11/2022 às 08h00min - Atualizada em 01/11/2022 às 08h00min

Mário de Magalhães Porto

ANTÔNIO PEREIRA
Dr. Mário de Magalhães Porto
Muita gente que desce para o bairro Lídice por uma rua muito inclinada chamada Mário Porto fica pensando: quem será esse Mário Porto? É muito comum encontrar-se rua com nome de pessoa que não tem qualquer significado para a cidade além de ser parente de algum amigo de autoridade competente para nomear ruas.
                   
Não é o caso de Mário Porto, um homem que passou pela cidade e marcou-a profundamente com seu pensamento e sua atividade.
                   
Nasceu em Caruaru, Pernambuco, no dia 17 de novembro de 1903, filho do cacique político Leocádio Rodrigues Duarte Porto e Carlota de Magalhães Porto.
                   
Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife. Ponto avançado econômica e culturalmente desde os tempos da colônia, Recife tinha e tem uma das Escolas de Direito mais respeitáveis do país, em nível da escola paulista do Largo de São Francisco.
                   
Lá, Mário Porto bebeu da fonte que preparava as transformações político-sociais que o país experimentaria a partir dos anos 30. Casou-se, depois de formado, com Maria de Lourdes Vieira Porto com quem teve dois filhos: Carlota Maria e Severino Mário.
                   
Veio para Minas Gerais em 1927 e foi nomeado Promotor Público para Frutal, pelo Governador Antônio Carlos. Em 1928 foi transferido para Uberabinha.
                   
Aqui, fundou, no mesmo ano, com o dr. Antônio Vieira Gonçalves (pai do professor Vadico), o Liceu de Uberlândia. Foi o seu primeiro Diretor.
                   
Em 1929, quando foi criado o Ginásio Mineiro de Uberabinha (depois Colégio Estadual) por encampação do Ginásio de Uberabinha, cedido pela Sociedade Progresso de Uberabinha, proprietária do imóvel, o governador Antônio Carlos visitou a cidade.
                   
Pitorescamente foi recepcionado debaixo da lona de um circo que se instalara defronte ao prédio do Colégio. Ali se fizeram os discursos de praxe.
                   
Mário Porto era excepcional orador e saudou o governador em nome do Município. Com tanto entusiasmo e persuasão que conseguiu ser nomeado, ali, no ato, pelo governador, o primeiro Reitor da escola que se criava.
                   
Deixou a direção do Liceu para o irmão Nelson que, em 1931, criou a Academia de Comércio de Uberlândia, anexa ao Liceu.
                   
Em 1930, quando Minas Gerais se envolveu na revolução que depôs Washington Luiz da Presidência da República, as forças mineiras do norte do Triângulo, cuja função era evitar a passagem das tropas goianas pelo território mineiro, a partir da ponte Afonso Pena, para juntar-se às forças paulistas, o Colégio Estadual transformou-se no lugar de aquartelamento das forças locais.
                   
De suas janelas, Mário Porto, com seu verbo inflamado, conclamava o povo a cerrar fileira com o governo mineiro em prol da revolução.
                   
Era homem de visão avançada para a época. Em todas as suas ações prestigiava o plano social. Talvez, por isso, tenha sido educador. A partir dos seus ensinamentos, começou a existir na cidade um novo questionamento do poder político e sua função, quando o velho coronelato se preocupava apenas em manter o poder.
                   
Além de grande orador, escrevia peças teatrais que muitas vezes eram levadas ao palco pelos alunos, era “pianeiro” (*) e compunha hinos escolares e músicas que ilustravam peças.
                   
Mal interpretado pelos conservadores, que viam nele o arauto dos novos pensamentos políticos extremados, para evitar maiores constrangimentos, Mário resolveu deixar a cidade e continuar sua obra educacional e política (no bom sentido já que nunca pleiteou qualquer cargo eletivo) no Rio de Janeiro além de continuar pregando mudanças socializantes.
                   
Enquanto isso, seu terceiro irmão, Milton Porto, figura de educador competente e bondoso que a cidade jamais esqueceu, continuou sua obra neste rincão.
                   
Em 1954 faleceu deixando um rastro de ensinamentos de ordem propedêutica, cultural e política.
                   
Sua passagem pela velha Uberlândia deixou marcas principalmente na ordem política permitindo o surgimento de novos líderes mais comprometidos com a obra política que com o poder político.
                   
Qualquer homenagem que a cidade faça a Mário Porto será sempre justa e merecida.
                   
(*) “Pianeiro” – era chamado, naquela época, o pianista que tinha pouco conhecimento da teoria musical, embora fosse bom músico.
 
Fontes: Entrevistas com Milton Porto e Galba Porto.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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