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18/10/2022 às 08h00min - Atualizada em 18/10/2022 às 08h00min

Augusto César e a Mogiana

ANTÔNIO PEREIRA
Augusto César - 1892
Augusto César Ferreira e Souza era deputado provincial pela região de Sacramento. Acolheu com simpatia os interesses dos uberabinhenses que pretendiam emancipar seu distrito. A justificativa da pretensão foi feita através de um levantamento sócio-econômico redigido pelo pároco João da Cruz Dantas Barbosa (o da rua Vigário Dantas) e entregue ao deputado por uma comitiva composta de destacados cidadãos. Augusto César batalhou por esse sonho. A lei emancipadora, de n. 4643, de 31 de agosto de 1888, foi assinada pelo vice-presidente da Província em exercício, barão de Camargos.
                   
De Sacramento, Augusto César mudou-se para Uberabinha e candidatou-se à primeira Câmara. Foi eleito e escolhido presidente, consequentemente Agente Executivo, que era função correspondente à de prefeito municipal. Naquele tempo, os eleitores escolhiam os vereadores e estes o presidente da Câmara que era, também, o Agente Executivo.
                       
Reeleito para a segunda Câmara, César recusou a recondução à presidência alegando razões de saúde.
                   
Como chefe do executivo do novo município, cuidou de organizar a administração, o ensino, construiu pontes e estradas ligando-o a seus vizinhos e doou terreno público para a Mogiana construir sua estação. (*)
                   
Político sério e profissional honesto, Augusto César sempre protegeu as comunidades que representou assegurando-lhes condições de progresso. Como advogado prestigiado, combateu os privilégios e defendeu graciosamente os desprotegidos da sorte. Manteve em seus escritórios, em Uberabinha, cerca de trinta jovens praticantes. (*)
                   
Aqui montou residência em uma chácara na confluência dos córregos São Pedro e Jataí, nas alturas do fim da avenida Rio Branco.
                   
Antigamente as estradas de ferro eram construídas respeitando interesses e caprichos dos fazendeiros. Uns queriam que passassem por suas terras, outros, não. E a linha de ferro seguia serpenteando voltas enormes e inúteis. Para os construtores tanto se lhes fazia, ganhavam por quilômetro construído.
                   
Quem quiser conhecer o trajeto de chegada da Mogiana à velha São Pedro de Uberabinha, basta acompanhar o traçado da avenida João Naves de Ávila construída sobre o caminho dos trilhos. Só que o plano original não tinha o traçado exato da João Naves.
                   
O que se passou, e mudou-lhe um pouco o rumo, me foi contado pelo saudoso pesquisador Waltercides Silva cuja seriedade me autoriza a recontar o fato como verdadeiro.
                   
Foi o seguinte: pelo traçado original, os trilhos passariam pela chácara do Augusto César. Entretanto, ninguém conseguiu convencê-lo a aceitar a invasão de suas terras pela estrada de ferro. Chegou a desentender-se pessoalmente com o engenheiro negro José Rebouças que era irmão do grande abolicionista, também engenheiro, André Rebouças.
 
Para defender sua propriedade, o vereador armou gente sua e espalhou pelas divisas da chácara. Era para atirar nos empregados da companhia que passassem para dentro. E ninguém passou mesmo. Por isso, aquela grande volta, que a avenida copia, nos arredores do Shopping Center.
 
No dia da inauguração, 21 de dezembro de 1895, Augusto César não compareceu à recepção das autoridades e aos representantes da empresa. Por sinal que a grande festa organizada para a inauguração da estação da Mogiana não aconteceu por circunstâncias curiosas e engraçadas que merecessem ser contadas. De outra vez.
 
(*) Certas informações sobre época tão distante, merecem melhores esclarecimentos. Primeiro: as estradas construídas não eram como as de hoje. Eram para tropas, carros de bois, cavaleiros. Segundo: os jovens praticantes em escritórios de advocacia, não eram estudantes. Não havia tantas escolas. Preparavam-se para ser rábulas – advogados não formados. Terceiro: todo proprietário de terras que se prezava.tinha sempre o seu magote de “marimbondos” (jagunços). 
 
Fontes: cônego Pedro Pezzutti, Atas da Câmara Municipal, Waltercides Silva

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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