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20/09/2022 às 08h00min - Atualizada em 20/09/2022 às 08h00min

Acendem-se as luzes de Uberabinha

ANTÔNIO PEREIRA
A velha usina dos Carneiro
Se há uma pessoa a quem Uberaba deve muito é ao médico José de Oliveira Ferreira. Homem que participou de quase todos os benefícios que a cidade recebeu em fins do século XIX e princípios do XX. Uma de suas mais importantes realizações foi a instalação da energia elétrica ocorrida no dia 5 de janeiro de 1905.
       
Para ver a novidade, foi gente de toda parte. Amante do progresso, o Tenente Coronel da Guarda Nacional, José Theóphilo Carneiro, foi lá conferir a novidade. A cidade fervia de forasteiros. Quando as luzes começaram a se acender, o ar se encheu de vivas, do som dos dobrados, e dos chapéus dos homens. O coronel prometeu, tomado de emoção, que daria um presente semelhante à sua “noiva”.
 
- Mas quem é a sua noiva, coronel?
- Uberabinha, uai!                 
 
Chegando a São Pedro de Uberabinha, o coronel começou a trabalhar o seu sonho. Entrou em contato com a Companhia Paulista de Eletricidade que lhe cedeu o engenheiro Paulo Faria. Faria fez os estudos preliminares, o projeto e cuidou também da implantação da obra na Cachoeira dos Dias, no rio Uberabinha. Enquanto Paulo Faria cuidava da obra, o coronel cuidava da concessão junto à Câmara Municipal. No dia 10 de fevereiro de 1908, a sua empresa, Carneiro & Filhos, constituída por ele mais os filhos José, Adolfo e Clarimundo, firmou o contrato com a Câmara recebendo o privilégio por 25 anos. O detalhe curioso e pouco conhecido é que além da concessão para a exploração da energia elétrica foi concedido ao coronel o direito de instalar linhas de bondes na cidade. Para oferecer o presente à sua “noiva”, o coronel vendeu muitos dos seus bens, inclusive a Fazenda da Chácara, que tinha esse nome por ficar nos arredores da cidade.
        
No dia 31 de outubro de 1909, foi erguido o primeiro poste de energia elétrica nas proximidades da Cadeia Pública que ficava nos fundos de onde é hoje o Colégio Ressurreição de Nossa Senhora.   A festa foi à tarde. Grande massa popular acompanhou o ato com vivas ao progresso de Uberabinha, à concessionária e ao coronel. Foguetes estouraram e o som das marchas e dobrados executados pela Banda União Operária encheram o ar da cidade. A casa do coronel, que ficava na atual praça Coronel Carneiro, exatamente onde se ergue o Edifício Ville Dujon, encheu-se de convidados para comemorar o feito. Não houve nenhuma discriminação política, o que não seria estranho entre adversários tão extremados quanto os daqueles tempos. O brinde ao coronel foi levantado com entusiasmado discurso do líder da situação, dr. João Severiano Rodrigues da Cunha, o Joanico. O coronel Carneiro era o ferrenho adversário. E quem respondeu ao brinde? Nada menos que o professor Honório Guimarães, outro duro adversário do coronel. Esses raros momentos de descontração política, foram emoldurados pelo mavioso som da União Operária se desmanchando em valsas, marchas, mazurcas e polcas.                   
 
Quando foi no Natal, 25 de dezembro de 1909, como um presente amoroso à sua “noiva”, o coronel fez acender as luzes de Uberabinha. Foi uma festa inesquecível, com visitantes de toda a região, três bandas de música e uma confraternização inusitada entre os irreconciliáveis “cocão” e “coió”. No primeiro número do jornal O Progresso, da situação, e que não se cansava de desancar o coronel, após a inauguração da energia elétrica comentou que, se Uberabinha tivesse meia dúzia de homens como ele, resolveria todos os seus problemas. A título de curiosidade, a iluminação pública da época constituía-se do seguinte: 257 lâmpadas de 50 velas, 79 lâmpadas de 100 velas e 29 lâmpadas de 400 velas. Oitocentos prédios da zona urbana receberam iluminação pelo custo seguinte: lâmpadas de 10 velas a três mil réis; de 16 velas a quatro mil réis; de 25 velas a cinco mil réis; de 32 velas a seis mil réis; de 50 velas a oito mil réis; de 100 velas a doze mil réis; de 200 velas a dezoito mil réis; de 300 velas a 22 mil réis e de 400 velas a vinte e cinco mil réis.
 
As instalações feitas pelo coronel e sua empresa serviram ao Município por 39 anos, sem qualquer alteração.
 
Fontes: jornais da época, Waltercides Silva, Geraldo Migliorini.

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