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13/09/2022 às 08h00min - Atualizada em 13/09/2022 às 08h00min

Capparelli pôs o macarrão em Mato Grosso

ANTÔNIO PEREIRA
A antiga Casa Capparelli
A história do comércio atacado de Uberlândia pode ser dividida em três etapas.     
 
A dos pioneiros, que começou depois que a Mogiana se instalou no meio do cerrado (hoje, praça Sérgio Pacheco), desenvolvendo-se com a construção da ponte Afonso Pena e das estradas do Fernando Vilela. Foram Antônio Rezende Costa, Teixeira Costa, Custódio Pereira, Póvoa etc. A dos grandes atacadistas dos meados do século passado como João Calixto e posteriormente sua viúva, Casa Galiano, Rezende & Cia, Serralha, Fonseca, Capparelli e outros. E, por fim, a dos gigantescos atacados distribuidores instalados a partir dos anos 60, como Alô Brasil, Martins, Peixoto, Comércio...
       
O pioneiro foi o Rezende Costa, que ficava na Praça do Comércio (dr. Duarte). O que mais cresceu e durou nesses primeiros tempos foi o Teixeira Costa que ocupava todo o lado demolido da praça Dr. Duarte (uma metade era o estabelecimento, a outra era a residência do titular Arlindo Teixeira). Entre os “grandes”, o maior foi o Capparelli, cujo titular era Francisco Capparelli. Ficava na esquina da avenida João Pessoa com a avenida João Pinheiro. Capparelli deixou seu emprego na Rezende & Cia e montou um armazém varejista pequeno, na esquina das avenidas João Pessoa e João Pinheiro. Logo começou um pequeno atacado que só vendia nas redondezas: Tupaciguara, Martinésia, Cruzeiro dos Peixotos... Depois montou um benefício de sal onde foi a Revendedora de Pneus OK. Era o Sal Famoso que pegou bem, vendido na linha da Mogiana até Araguari e daí para frente na linha da Estrada de Ferro Goiás.                    
        
Os bandeirantes das estradas que fizeram a grandeza das casas comerciais da primeira metade do século passado foram os caminhoneiros que rompiam as distâncias e levavam as mercadorias dos nossos atacadistas e consignatários a pontos inacessíveis a quem tinha bom senso. Arriscavam. De onde as péssimas estradas terminavam, o caminho era rasgado nas rodas dos frágeis caminhões. Consignatário foi uma figura do comércio que hoje não deve existir mais. Era o comerciante que recebia mercadorias pela Mogiana destinadas a terceiros, estabelecidos além da estrada de ferro. O consignatário recebia, armazenava e remetia oportunamente aos destinatários mediante pequena taxa. Nego Amâncio foi o vanguardeiro da abertura de frentes comerciais para Uberlândia. Criou um sistema diferente de vendas. Ele colhia os pedidos para fornecedores indeterminados - ele é quem escolhia depois. Estes entregavam-lhe em confiança as mercadorias que ele levava e recebia. Uma espécie de contra entrega. Tudo pelo frete, não ganhava comissões. A Casa Capparelli adotou esse sistema de pronta entrega criado pelo Nego Amâncio. As antigas casas continuaram com o sistema de contas correntes para recebimento depois da safra. Havia quem esperasse quase um ano para receber. Ao adotar diretamente esse novo sistema, Francisco Capparelli deslocou-se até Mato Grosso colhendo pedidos em várias cidades. Vendeu 48 toneladas, o que era uma enormidade para aqueles tempos. Carga para, no mínimo, 12 caminhões da época. Nos começos da década de 40, os caminhões não carregavam mais que quatro toneladas.  Praticamente aí começa o uso de vendedores pelos atacadistas de Uberlândia. São Paulo enviava viajantes pela linha da Mogiana até o final dos trilhos. Para Mato Grosso já mandavam há muito tempo através de Três Lagoas. Mas o que surpreendeu o nosso vendedor-atacadista Capparelli foi o grande empenho que teve que fazer para colocar um produto simples e barato que os matogrossenses desconheciam: o macarrão. Na ponta desse processo sócio-econômico de expansão das vendas triangulinas pelos sertões, vem essa curiosidade inesperada: vendeu-se pela primeira vez, para surpresa e regalo dos nossos irmãos do extremo Oeste, pelas mãos de um filho de italianos, a deliciosa “massa alimentícia”...
 
                                                               
(Fontes: Francisco Caparelli, A. P. Silva e Nego Amãncio) 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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