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12/07/2022 às 08h00min - Atualizada em 12/07/2022 às 08h00min

Emilinha, Paulinho

ANTÔNIO PEREIRA
Emilinha, a eterna rainha
Até 1944, mamãe me mandava pra cama quando começava o programa A Voz do Brasil, em todas as emissoras de rádio do país. Os acordes iniciais de O Guarany, do Carlos Gomes, que informavam o início do programa, ficaram na minha cabeça, para o resto da vida, como a lembrança da sua imposição negativa. Como eu gostava muito de rádio, sempre que ouvia esses acordes, em outros momentos, me envolvia a sensação do vazio que me esperava.

Uns 20 anos depois, aconteceu a mesma coisa com o Paulo Antônio, meu primeiro filho, hoje com mais de cinquenta. Ele ia pra cama quando a TV-Triângulo, Canal 8, a pioneira, encerrava seu trabalho. A indicação musical de que a emissora fecharia as portas era uma marchinha patriótica gravada pela simpática Emilinha Borba, “Você conhece o Brasil”, do João Roberto Kelly.

Ficou na cabeça dele aquela canção, símbolo do vazio que viria depois, mas diferente do motivo da minha fixação. Eu era mandado para a cama e ele gostava da música. Cantava, comentava comigo, perguntava o nome da cantora e se dizia fã dela. Emilinha foi o ícone de um fantástico período radiofônico, quando os cantores eram tão admirados quanto os astros das novelas dos dias de hoje. Seus fãs deleitavam-se tanto com sua voz quente, sensual, expressiva, quanto por sua simpatia pessoal e presencial. Que alegria transmitia, que ares suaves a rodeavam.

Paulinho, que nunca tinha visto a cantora, com 7 ou 8 anos apenas, já a admirava. Um carisma transmitido pela vibração vocal. 

Emilinha namorou o Waltinho da Discolândia. Vinha muito aqui vê-lo. Circulava pela cidade. Cantava em festas por aí, de graça. Grande mulher, grande cantora. Certa vez, cantou numa festa das meninas do Colégio Valsée. Não ensaiou, nem nada. Passava o tom para o regional que estava lá animando a moçada e pronto! Metia os peitos.

Nesse tempo, eu escrevia sobre Música Popular para o Correio de Uberlândia. A Discolândia me patrocinava. Ia muito àquela loja de discos e me encontrava muito com a Emilinha.

Um dia, estava fazendo compras no antigo Supermercado Alô Brasil, na avenida Afonso Pena, e vi lá dentro a Emilinha. Falei para o meu filho que aquela era a cantora da música de que ele gostava. Ela estava indo para o Caixa e nós tínhamos terminado nossas compras. Corri para pegá-la na fila. Ela já estava pagando quando nos aproximamos. Cumprimentamo-nos e disse a ela que o Paulinho adorava aquela marchinha que encerrava a programação da TV-Triângulo. Emilinha se curvou pra conversar com ele e perguntou-lhe: Então você gosta daquela música? Ele confirmou. Pegou-o no colo e cantou cara a cara pra ele a música inteirinha. A fila parou, o Caixa parou, muita gente se aproximou para ouvi-la e todo mundo se sentiu feliz.

Faz tempo que ela morreu. Paulo Antônio, com mais de cinquenta anos, ainda é fã dela. 

Como não ser?


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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