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21/06/2022 às 08h00min - Atualizada em 21/06/2022 às 08h00min

Currículo para a engenharia

ANTÔNIO PEREIRA
O Dr. Genésio de Melo Pereira
Genésio de Melo Pereira participou intensamente da instalação e organização da Escola de Engenharia. Batalhou para a criação da Escola desde os tempos da extinta SEQAU (Sociedade dos Engenheiros, Químicos e Arquitetos de Uberlândia). Brigou para que ela não fosse instalada no centro da cidade, onde não teria condições de expandir, e colaborou com numerário pessoal para se realizar a troca do prédio dos padres Salesianos na Vila Saraiva por uma casa que ficava ao lado da Igreja de Nossa Senhora Aparecida.
               
Foi nomeado Diretor da Comissão que implantou a Escola. Ficou lá de 1964 a 70.
               
Quando que se instalou o Governo militar de exceção, em 1964, a Escola já estava criada e já tinha sido feito o vestibular, mas o período que se seguiu foi caótico e o que estava pendente, vindo do governo anterior, não teve solução de pronto. Continuou pendente. Genésio assumiu as despesas de manutenção mais os salários de três auxiliares e foi tocando a Escola como se tudo estivesse bem.
               
Os professores lecionavam sem receber. Entusiasmados com a Escola. E o mais espantoso: a maioria deles era de Uberaba. Eles mesmos pagavam as despesas com a locomoção. Felizmente, por convênios feitos posteriormente, Genésio pagou-os no fim do ano. No segundo exercício tudo se repetiu.
               
Por ocasião de sua campanha para a Presidência da República, o marechal Costa e Silva passou por Uberlândia. Já com um uisquezinho a mais na cabeça, perguntou aos uberlandenses qual era o seu maior desejo. Responderam que era uma Escola de Medicina. E qual o problema?, indagou. O Conselho respondeu. E ele: “Com Conselho ou sem Conselho ela vai ser criada.” Genésio estava entre os interlocutores do candidato pró-forma. Depois de confirmado na Presidência, com Rondon Pacheco na Casa Civil, era mais fácil contatar com ele. Genésio, volta e meia, estava lá.  Costa e Silva chamava-o de “meu general da Medicina”. Um dia, Genésio chamou o Ministro Rondon de lado e pediu-lhe que informasse ao Presidente que ele não era da Medicina, era da Engenharia.
               
Quando o Presidente aniversariou, Rondon preparou-lhe uma festinha simples, capaz de estranhar dona Rosana Collor. Genésio foi. Na ocasião, Costa e Silva prometeu retribuir a gentileza ao Ministro. Quando Rondon aniversariou, o Presidente fez a festa e, de novo, o Genésio esteve presente. Antes, porém, preparou-se. Pediu ao Américo de Abreu, funcionário da Prefeitura, ex-Vereador, entendido em administração pública e legislação, que preparasse um Projeto de Lei criando mais quatro cursos na Escola de Engenharia: Engenharia Civil, Elétrica, Eletrônica e Nuclear. Américo fez o Projeto, Genésio foi para a festa com o Projeto no bolso do paletó.
               
Em palácio, políticos e amigos do Ministro da Casa Civil festejavam seu aniversário com bolachinhas e guaranás. Não disse que os Collor se escandalizariam? O Presidente chegou um pouco atrasado, mas serviu-se logo enchendo a mão de bolachas. Os convidados mantinham-se arredios, meio tímidos. Perto do Presidente, só o Ministro Rondon. Genésio destacou-se e aproximou-se do Presidente.
               
- Senhor Presidente, permite que um brasileiro lhe dirija a palavra?
           
Costa e Silva com a boca cheia:
               
- Pois, não; pois, não.
               
Genésio puxou do papel.
               
- Tenho aqui um Projeto para o ensino em Uberlândia. Gostaria que o senhor analisasse e fizesse um Decreto para nós.
               
Numa mão, o copo, na outra, bolachas. A boca cheia. Falou mascando:
               
- Bota aí, no meu bolso.
               
Genésio pôs. Agradeceu. Afastou-se. Quebrado o gelo, os convidados rodearam o Presidente.
               
Dias depois, sob forma legal, foi publicado o que se pediu. Do jeitinho que o Américo rascunhou.
 
Fonte: Dr. Genésio de Melo Pereira          

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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