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13/05/2022 às 08h00min - Atualizada em 13/05/2022 às 08h00min

Caçador de cores

WILLIAM H STUTZ
Declaração
Eu me declaro livre, eu me declaro vivo
Não duvidem, não perturbem sigo sem medo ou censura.
Eu me declaro pronto para o riso, para a festa da vida
Eu me declaro pronto e solidário ao pranto.
Me declaro feliz, que seja por decreto que seja por acaso.
Digo não a covardia, digo não à solidão.

Me declaro capaz de voar junto com andorinhas da Patagônia.
Em bando ou só faço sim meu verão.
Me declaro justo, quando não o for me declaro culpado sem culpa,
foi sem querer, me retrato, corrijo.
Me declaro bom companheiro, bom amante, bom pai, se assim não for me declaro pronto a aprender, pronto a tentar assim fazer, assim ser.

Me declaro até bonito e rico
Meu espelho e meu bolso podem, e vão me contradizer
Nem ligo pois me declaro dono dessa pequena mentira que a mim satisfaz
Sendo assim me declaro entre sorrisos um tanto quanto...
Sagaz, ou seria fugaz?

Amor proibido
Pesadelo, encharcado em suor noturno, abafado, em gelada madrugada.
Arfando de calor inquietante.
Teu rosto presente, teu corpo ardente.
Vejo, sinto, não consigo, não posso tocar.
Amor proibido, desejo escondido.
Imensa, densa noite. Explosão de amor escondido, desejo há muito reprimido.
Angústia.
Espero em desespero o amanhecer.
Só assim posso, não, não quero mas tenho que te esquecer.
Tua boca, tua pele, teu cheiro, puro desejo. Tanta paixão sufocada.
Não quero, não posso.
Quero.
Assim corpo e alma em chamas aguardo outro anoitecer.
Mal me aguento o dia, vontade louca de, em sonhos voltar a te ter.

Cheiro verde
"São noites de silêncio / Vozes que clamam num espaço infinito / Um silêncio do homem e um silêncio de Deus" (Frei Tito) 
Revejo minha vida, Escolhas, posturas, aflições. Tento lembrar de arrependimentos mais fortes, não os encontros. Queria morar na praia, beira-mar; coisa de mineiro; coisa da evolução da espécie. 
Devaneio. Do mar viemos, a ele queremos voltar. Hoje aqui na mata sinto um cheiro de chuva e de verde. Me viro na rede alta à espera dos bichos da noite. Ao longe vejo o clarão da cidade/viva/agitada/vazia. Rude. Gosto da noite. As nuvens cada vez mais baixas estão brancas na noite-breu. Quase as toco. Espero meus bichos, eles virão como sempre me fazer companhia. 
Já escuto seus sons, silenciosas asas se aproximam e sopram deliciosas palavras — que só eu entendo — bem junto de meus ouvidos. É tão bom estar vivo E eu os respondo com orações e lágrimas. Agradeço todo dia ao Altíssimo por me ceder momentos só meus.

Longe espero e reflito, vejo céu de baixas nuvens a sangrar; Busco concentrar na armadilha que estou armando - sou caçador de cores. Minha tela já repleta de falsas imagens parece pairar no silêncio da colina. Chove. As frescas tintas escorrem como enxurradas lamacentas. A mistura criou vida. Um sopro divino sobre minha armadilha esteve. Não sinto mais tanto a sua falta. Sou caçador de cores.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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