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26/04/2022 às 08h00min - Atualizada em 26/04/2022 às 08h00min

Trecho de entrevista com José Pafume

ANTÔNIO PEREIRA
O Fordinho 1929
O Vereador José Pafume me contou:

“Meu pai assinava Mariano Pafume, foi o primeiro da família a chegar a Uberabinha. Chegou aqui em 1889. Nasceu na Sicília. Aqui, em Uberabinha, ficou conhecendo Marcianinho de Ávila, que tinha olaria e esse Marcianinho deu emprego ao meu pai. Meu pai começou a trabalhar em serviço pesado na olaria porque infelizmente e lamentavelmente ele nunca teve um estudo suficiente. Era analfabeto. Com determinado tempo trabalhando nesta olaria, ficou conhecendo uma moça que morava acima da olaria, uns dois quarteirões. Elvira Rosária Machado de Castro e passou a namorar com ela, e acabou realizando o casamento que constituiu dez filhos: cinco filhos e cinco filhas. Começou também a se relacionar com certos patrícios dele que vierem chegando, Pepe Rende que tinha uma sapataria de consertos no começo da Afonso Pena, Angelo Naghetini, Angelo Schiavinatto, o velho. Um italiano quando encontrava outro italiano era aquela festa porque começavam a relembrar da vida na Itália e ele assim quando deixou de trabalhar mais na olaria, fez uma economia e comprou um fordinho “cuié”, da Agência Ford, nessa época, já era 1927. E pegava transporte de cerais das máquinas para os vagões da Mogiana. Naquela época vinha de Goiás quase todos os mantimentos, arroz, feijão, milho, e a Mogiana transportava pra São Paulo, naquela época a gente quase que praticamente sustentava São Paulo.  Meu pai chegava a encher de três a quatro vagões por dia. Ele comprou outro caminhão da Ford.  No mesmo ano. As coisas foram melhorando monetariamente pro meu pai. Chegaram uns caminhões mais novos, Fordinho 29, aqueles fordinhos “cuié”. Então ele comprou mais dois caminhões. Ficou com quatro. Depois de cinco anos que ele já estava com quatro caminhões trabalhando arduamente pra sustentar 10 filhos, em 32 veio a revolução de Minas e São Paulo. Então chegaram onze carabineiros em frente à nossa casa, na rua general Osório, 347, onze carabineiros e nós estávamos todos dormindo e eles deram onze tiros pra cima então nós acordamos assustados porque não era natural aquilo. Meu pai ia abrir a porta, a minha mãe disse pra ele: Mário, não abre a porta não porque você não sabe quem é. Abre a janela devagarinho. Então ele abriu a janela devagarinho e viu onze carabineiros com onze carabinas na mão, aí ele perguntou o que que vocês querem? Eles falaram: nós queremos as chaves dos dois caminhões mais novos pra revolução, depois o governo te paga ou devolve os caminhões. Aí meu pai, eu era menino, me lembro como se fosse hoje, meu pai, então, disse, mas, meus senhores, esses caminhões são o ganha pão dos meus filhos, eu tenho dez filhos pra tratar. Nós não estamos te perguntando nada, nós estamos pedindo as chaves dos dois caminhões mais novos. E deram mais onze tiros pra cima, sabe como é, as mulheres são mais medrosas, minha mãe então falou, Mário, vai lá pega as chaves dos dois caminhões mais novos entrega para eles. Meu pai foi, pegou as chaves, entregou, eles retiraram da garagem, meu pai morreu com 90 anos, em 1979, e até hoje não recebemos nem os caminhões nem o dinheiro do valor deles. Então essa é a história do meu pai que chegou a um certo ponto, ele aposentou e os filhos foram trabalhando... Na Itália ele pastorava ovelhas. Ele veio direto para Araguari e acho que no mesmo dia ele veio pra cá, porque o colega dele, que eu não sei quem é, convidou ele e ele veio pra cá e arrumou emprego na olaria. O fordinho “cuié” é o fordinho 29. Era chamado de fordinho cuié porque a embreagem dele representava duas coisas, embreava e engatava. Por isso chamava “cuié”. A agência Ford está no mesmo lugar até hoje, na avenida Floriano Peixoto. O Zé dos Santos é que vendeu os caminhões pro meu pai.”


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