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08/04/2022 às 08h00min - Atualizada em 08/04/2022 às 08h00min

Raça

WILLIAM H STUTZ
Nasci meio esquisito, quase sem melanina, aquilo que dá cor à pele da gente. Coisa da genética, meus avós, russos PO – Puros de Origem – vieram do Cáucaso da região de Cabárdia-Balcária fugindo, judeus que eram, ainda crianças da perseguição bolchevique. Quem não fugiu foi sumariamente executado pelas tropas de Lênin e posteriormente o sanguinário Stalin se encarregou de dizimar quem sobreviveu. Nossa família não era menchevique. Foram perseguidos apenas por serem judeus. Fugiram para os Estados Unidos da América. Meu pai nasceu no Brooklyn, NY. Mas cá pra nós, chega de autobiografia.

O fato é que passei toda minha infância e adolescência alvo de bullying por parte da moçada. Quase sem cor e pêlos, pronto, alvo fácil para gozações. Quando tomava sol em praia ficava parecendo aquele sorvete de três sabores. Peito chocolate, bunda creme, pernas cor de morango.

Tanta gozação me dá o direito, na onda das minorias raciais, de não mais aceitar ser chamado de branco, branquelo ou genérico; similar então nem pensar.

A denominação agora deverá ser Cáucaso descendente e não abro mão. Desta forma, as cores preta(o) e branca(o) serão abolidas do dicionário politicamente correto. Por decreto, as substituo por afrodescendente e o já citado Cáucaso descendente. Assim sendo, algumas expressões serão alteradas sob pena de ser tachado de preconceituoso. Vamos citar algumas: bandeira branca será agora bandeira Cáucaso descendente. Imagina a música na voz de Dalva de Oliveira: “Bandeira Cáucaso descendente eu quero paz (…)” fica mais legal, né!?

Pássaro preto vira Pássaro Afrodescendente, o Assum de Gonzagão também: 

“Tudo em vorta é só beleza / Sol de Abril e a mata em frô / Mas Assum afrodescendente, cego dos óio / Num vendo a luz, ai, canta de dor.”
A zebra, assim como a camisa do Galo Mineiro, passa a ter uma listra afrodescendente e outra Cáucaso descendente.

Dia de tempestade o céu estará afrodescendente em ameaça torrencial.
Se for de Campinas e não torcer para o Guarani, vibre com as vitórias da Ponte Afrodescendente.
Qual a cor do cavalo Cáucaso descendente de Napoleão?
Se a barra pesasse diria em murmúrio “é, meu, a coisa aqui está afrodescendente…”
Daniela Mercury cantaria:

“Sou amarrado nessa pele escura/ Na sua cultura / Em sua formosura/ Mas no final tudo é uma só mistura/ A mesma estrutura/Isso é beleza pura.
E todo mundo aqui é afrodescendente e Cáucaso descendente.
E todo mundo aqui é afrodescendente e Cáucaso descendente”.

Como diz um dos atores mais lúcidos que conheço, Morgan Freeman, em entrevista a Mike Wallace, clareza impressionante ao se referir às datas de consciência disso ou daquilo e como, se não acabar, pelo menos não tornar os preconceitos menos enraizados em nossa cultura, geradora de ódio, minorias e cotas, diz Freeman: “Deixemos de falar sobre ele (o preconceito).”
Aos que me maldisserem por rir de mim mesmo eu solto a mais bela pomba
Cáucaso descendente da paz.

Falando sério: Pelo fim de todas as formas de preconceito já!
Pensem bem, segundo o projeto Genoma: 
“Não existem diferentes raças das gentes, mas, sim, uma única espécie a HUMANA!”.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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