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26/10/2021 às 08h00min - Atualizada em 26/10/2021 às 08h00min

Os primeiros esgotos

ANTÔNIO PEREIRA

Antigamente era assim:
 

Não havia coleta de lixo, então o povo jogava seus restos no fundo do quintal, quando o quintal era muito comprido ou, então, num canto da cidade, geralmente nos largos, que eram espaços vazios (hoje se transformaram em praças). Até bicho morto era jogado nos largos. Isso nos parece um absurdo, hoje.

                

Não havia esgotos. Então as “casinhas” ficavam no fundo dos quintais. Um buraco feito no chão com umas tábuas por cima e um furo no meio. A “limpeza” era feita com um trapo pendurado na parede. Parede geralmente feita de madeira e a porta fechada com arame. As águas servidas da lavação de roupas e dos trens da cozinha escorriam livremente para as ruas formando leito esverdeado ou no rumo das ruas ou para os fundos da casa, conforme a queda.

                

Essas coisas todas quem arrumou foi o Joanico, um prefeito como raramente tivemos outro (1912 a 1922).

                

Ele resolveu instalar rede de esgotos.

                

Sempre há reações:

- Ah... isso não vai dar certo. As manilhas não vão aguentar a pressão das águas sujas.

                

Mas o Joanico pôs. Uma coisa estranha nos dias de hoje. As águas servidas saiam das casas por manilhas e iam para uma cisterna sem tampa no meio das ruas (geralmente nos cruzamentos). Dessas cisternas saiam outros coletores mais largos que iam até outras cisternas maiores também descobertas e no meio da rua.

                

Daí emissários maiores jogavam tudo no córrego Cajubá (hoje corre sob a avenida Getúlio Vargas). Evidentemente, só a vertente esquerda era privilegiada. Não havia nada do outro lado. Mas já era alguma coisa pra quem não tem nada.

                

Até a década de 1941, na cidade onde morei, no interior de São Paulo, nos cruzamentos ainda havia destas cisternas, só que não mais abertas, mas cimentadas e com tampa de ferro.

                

O jornal A Tribuna, de 19 de setembro de 1920, faz a seguinte queixa contra os “exgostos” (era assim que se escrevia): “um dia desses, um boi de carro quase caiu dentro de uma dessas cisternas...”

                

A cidade recebeu a novidade sem muita crença na sua utilidade.

                

Lentamente o sistema foi melhorado, espalhado para toda a cidade e, atualmente, é tópico nas campanhas eleitorais: Fulano fez tantos quilômetros de rede de esgoto... mas quem fez os primeiros metros foi o Joanico.

 

Fonte: jornais da época

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 

 
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