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23/10/2021 às 08h00min - Atualizada em 23/10/2021 às 08h00min

A Pedagogia nos consultórios de Psicologia

DÉBORA OTTONI
Foto: PEXELS
Antes de me formar em Psicologia, eu me graduei em Pedagogia. Costumo dizer que o setting terapêutico é, também, pedagógico.

O olhar de pedagoga me permite ter mais clareza da importância da educação e a presença de seu papel fundamental em todos os âmbitos da vida de um ser humano. 

Depois que me formei compreendi a necessidade de buscar o conhecimento genuíno das coisas, algo que passa desapercebido nas formações acadêmicas. Comecei, então, a estudar, por conta própria, de forma a resgatar as origens reais da educação.

Desde então, ficou claro, para mim, que é impossível falar da finalidade da educação sem falar da antropologia do homem. Porém, uma das desordens do sistema educacional se configura ao atestarmos que, hoje, as instituições de ensino não conhecem de fato o seu objeto de maior importância: o ser humano.

Sem a concepção da finalidade do homem (para que o homem foi feito, para que ele foi criado, por que ele existe), não se consegue definir o verdadeiro propósito de educá-lo.

Se concebemos a estrutura do ser humano apenas como um corpo e uma psique, o educaremos de acordo com essa visão, extremamente limitada, diga-se de passagem.

Mas, para que saber sobre isso, não é verdade? Afinal, este tipo de questão nem cai no ENEM!

A educação moderna se contenta com o cumprimento de currículos que visam um educar conteudista, raso e superficial, com o objetivo único de preparar o indivíduo por anos para poder, por fim, passar em uma prova que equaliza o seu aprendizado ao de todos os outros estudantes do país.

Educar é e tem que ser muito mais do que isso! A educação é um repassar de conhecimento, mas, também, um transmitir de valores, princípios, virtudes e verdades. A educação clássica é um exemplo de como indivíduos fortes, virtuosos, sábios e preparados eram forjados pela educação de um mestre que tinha o papel de PERSONALIZAR seu pupilo através de sua PERSONALIDADE madura. É só buscar na história...

Hoje, uma geração fraca é arrastada por personalidades fracas que assumem uma sala de aula ou um consultório de terapia. Uma geração influenciada por essas pessoas que, sequer, dão conta de lidar com suas próprias questões, porém, se sentem capazes de "ajudar a arrumar” o mundo!

Não basta ler muitos livros, ter status, certificados e um belo Lattes. Se você não se educa para a transcendência a qual clama a natureza humana, você não consegue educar o outro. Se você não consegue se educar de acordo com a finalidade para a qual fomos criados, você não pode se considerar um educador.

Somos mais do que essa forma e matéria que se apresentam. Se o educar não aponta para o alto, para a expansão do potencial máximo de ordem e virtude que o ser humano pode alcançar, esse processo não pode ser chamado educação.
O papel da tradição é fundamental no educar, pois guarda as informações da origem dos tempos, da história, do sentido das coisas, dos valores, aponta para o Sagrado e sabe, de fato, conceber o que, de fato, é o ser humano.

E qual a relação da educação com a psicologia?
Se hoje, um indivíduo que me chega no consultório, se apresenta desestabilizado, acometido por transtornos psíquicos e adoecido emocional, psicológica e fisicamente, consigo atestar em grande parte que a origem do problema está na debilidade de sua formação.

O indivíduo, por não compreender o seu propósito, por não sabe responder o que ele é e para que ele existe, acaba se tornando incapaz de resolver as questões mais triviais de sua vida.
Portanto, educa-se o homem, conforme concebe-se o homem. Portanto, cura-se o homem, conforme concebe-se o homem.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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