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05/10/2021 às 08h00min - Atualizada em 05/10/2021 às 08h00min

Eleição e Governabilidade

Por Benito Salomão, economista
A despeito de uma crise multifacetada que impõe um enorme sofrimento à população brasileira, a pauta do dia são as eleições. Isto tem dominado o debate público desde a devolução dos direitos políticos do Presidente Lula pelo Supremo Tribunal Federal. A entrada de Lula na disputa reorganizou o cenário eleitoral, pois impôs chances reais de derrota ao
presidente Bolsonaro e escancarou a fragilidade das candidaturas alternativas postas até aqui.
 
Neste contexto de quase irrelevância das candidaturas alternativas, há uma espécie de obsessão por parte de analistas políticos e dirigentes partidários, na busca por encontrar um nome capaz de romper com a polarização posta e estar no 2º turno.
 
Enquanto este artigo está sendo escrito, há pelo menos 7 pré-candidatos à presidência da República fora da polarização PT-Bolsonaro: Sérgio Moro, Ciro Gomes, João Dória (ou quem o venha substituir no PSDB), Henrique Mandetta, Rodrigo Pacheco, Simone Tebet e Alessandro Vieira.
 
Supondo que todos sejam candidatos e que na média, cada um tenha 3% dos votos válidos, somados estes candidatos teriam 21% dos votos válidos. Se o presidente Bolsonaro desempenhar o que várias pesquisas têm mostrado, algo entre 25% e 30% dos votos válidos, os 21% dos candidatos alternativos serão o limiar para que a eleição do ano que vem tenha ou não um 2° turno. Portanto, é preciso deixar claro que uma 3ª via fragmentada, interessa, em muito à Bolsonaro, pois dá a ele chances de polarizar no 2° turno.
 
Eleições em 2 turnos, em condições normais, não são um problema, pois os candidatos são submetidos ao escrutínio público por mais tempo e, portanto, assimetrias de informação entre eleitores e candidatos podem ser atenuadas neste tempo extra da eleição. Ocorre que as eleições do ano que vem não se darão sob condições normais de temperatura e pressão, as contínuas ameaças de Bolsonaro às eleições, somado ao engajamento de seu núcleo de apoio mais fanático, levam ao temor que as eleições que se aproximam culminem em violência.
 
As forças democráticas brasileiras deveriam estar empenhadas em se unir e derrotar Bolsonaro já no 1° turno, não dando margem para que ele busque sabotar, ainda mais, o pleito eleitoral. Paralelamente às eleições presidenciais, porém igualmente importante, haverá ano que vem eleições para o Congresso, para os governos estaduais e para as Assembleias Legislativas. Vale salientar, que durante os principais momentos de stress entre Bolsonaro e as instituições, tanto o Congresso, quanto os governadores reunidos, foram importantes contrapesos de oposição às tentativas de retrocessos democráticos.
 
Enquanto dirigentes partidários e formadores de opinião focam energias na busca de um presidenciável viável que pode não aparecer, o Centrão busca ampliar sua influência no executivo, com o nítido objetivo de utilizar os instrumentos do governo (inclusive orçamentários) visando majorar sua participação no parlamento a partir de 2023. Bolsonaro também investe na ampliação de suas influências, ventila-se na imprensa que um número elevado de ministros deve se desincompatibilizar visando disputar as eleições, com o claro objetivo de dilatar a base bolsonarista no Congresso.
 
O que poderia ser pior do que um segundo governo Bolsonaro, estressando diariamente as instituições, se acotovelando com outros países, dando caneladas na imprensa, e tentando impor sua pauta medieval de armas e de costumes, a partir de 2023? Pior do que isto, apenas isto somado a um Congresso cuja pauta é dominada por parlamentares mais bolsonaristas do que o próprio Bolsonaro e em conluio com os interesses fisiológicos do centrão.
 
É condição sine qua non para a sobrevivência da democracia brasileira que este cenário seja evitado em 2023, e é dever dos democratas deixarem os projetos pessoais de lado para salvaguardar a democracia.
 

Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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