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07/09/2021 às 08h00min - Atualizada em 07/09/2021 às 08h00min

O Triângulo já foi espanhol e capixaba

ANTÔNIO PEREIRA
O Triângulo sempre teve uma tendência para a instabilidade administrativa. Por isso, para conhecer bem sua História, temos que mergulhar até os tempos que antecederam o descobrimento do Brasil.
 
Depois de rodar pelo mundo conhecido atrás de patrocínio, o genovês Cristóvão Colombo conseguiu três naus dos reis católicos de Espanha, Isabel e Fernando. Com a Santa Maria, a Pinta e a Niña foi dar com os costados na ilha Guanahani (San Salvador) em 1492 e voltou todo eufórico.
 
Mas Portugal foi que não gostou. Afinal, tinha enfiado muito capital nesse negócio de navegação, empenhado um Infante, o d. Henrique, filho do rei d. João II, contratado os melhores navegadores do mundo, os melhores cartógrafos, os melhores teóricos, montado escola no promontório de Sagres, um timão e, além disso, tinha a maior e melhor frota com a vantagem de que os seus barcos possuíam melhoramentos que não havia em outras marinhas. Seus barcos eram melhor equipados, navegavam mais rapidamente em razão das novas formas de velas que eles criaram.
 
Aumentaram-lhes o tamanho e, mesmo assim, acabou perdendo a parada para uma Espanha que saia enfraquecida de uma luta quase sem fim contra os mouros.
 
Não aceitou aquele vexame e, como tinha força, começou a reivindicar uma boa porção da descoberta. A Espanha aceitou que o Papa fosse intermediário na questão. Alexandre VI, espanhol de nascença, fez a divisão do mundo novo puxando a sardinha para o torrão natal: riscou uma linha imaginária, de polo a polo, passando a cem léguas a Oeste das Ilhas do Cabo Verde. Pra lá delas seria dos espanhóis, prá cá, dos portugueses. Os portugueses, que são bobos só nas piadas de brasileiros, não aceitaram. Não tinha nada pra cá das 100 léguas. Continuaram apertando até que numa reunião de chanceleres em Tordesilhas, em 1494, chegaram a um acordo: a 370 léguas das mesmas Ilhas do Cabo Verde passaria a tal linha imaginária, um meridiano. Aí, sim. Portugal abocanhou um pedação da descoberta.
                            
Essa linha nunca foi demarcada porque nem se imaginava a largura das terras descobertas, nem havia condições materiais de se chegar até ela. Mas pode-se calcular que ela permaneceu eternamente uma linha imaginária. Esse meridiano penetra no Brasil pelas alturas de Belém do Pará e vem descendo, descendo até chegar em Laguna, no Rio Grande do Sul. Nesse caminho ela passa pelo Triângulo mais ou menos entre Frutal e Campina Verde. Dessa forma, antes do Brasil ser descoberto, o nosso irrequieto Triângulo, já estava dividido - por um lado era da Espanha, por outro de Portugal. As terras onde seria o município de Uberlândia estavam do lado português.
               
Daí veio Cabral, descobriu o que já estava descoberto, e começa uma nova vida para as terras de Santa Cruz. Trinta anos abandonadas, as terras estavam sendo exploradas por contrabandistas até que Portugal resolveu tomar conta do que era seu.
                            
Retalhou o país e entregou as tiras a nobres portugueses para que administrassem, implantassem o progresso e consolidassem a posse. Foi o regime das Capitanias Hereditárias. Cada Capitania ia de um acidente geográfico no litoral a outro. Era a largura das capitanias. Foram criadas 15. A que nos interessa é a que foi doada a Vasco Fernandes Coutinho, chamada Capitania do Espírito Santo e que ia desde a foz do rio Itapemirim até a do Mucuri. E a profundidade dessas capitanias? Elas partiam do litoral e seguiam até encontrar-se com o meridiano de Tordesilhas.
                            
Se traçarmos, num mapa atual, a linha de Tordesilhas e, em seguida, riscarmos duas linhas paralelas partindo da foz dos rios Mucuri e Itapemirim até chegar ao meridiano, nós vamos embutir no mapa da Capitania do Espírito Santo, que deu origem ao Estado do mesmo nome, todo o território do Triângulo, menos a parte espanhola. Então o Triângulo já foi meio espanhol, meio português e, depois, meio espanhol e meio capixaba.
 
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