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31/08/2021 às 08h00min - Atualizada em 31/08/2021 às 08h00min

Amar e Mudar Uberlândia: 133 anos de luta

Por Dandara Tonantzin, pedagoga, mestranda em educação na UFMG e vereadora de Uberlândia - MG
A palavra “Uberlândia”, se destrinchada, quer dizer “terra fértil” e não haveria um nome mais propício que esse para dizer desse lugar que é meu, é seu, é de todo mundo que vive aqui. Onde tudo que se planta, colhe, onde tudo que ramifica vira raiz, para mais tarde virar galho, virar gente e semente e mais de setecentos mil corações pulsando para conotar essa cidade como a terra da fertilidade.

Uberlândia é uma cidade que nos abraça. Por aqui corremos atrás de sonhos, batalhamos com garra. Nossa história se esbarra em cada passo. Até hoje as pequenas e tortuosas ruas que entrecortavam o antigo arraial de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha, e marcavam a paisagem com suas casas coloniais e muros antigos, seguem preservadas. Passando pelos mesmos caminhos que caminhou Grande Otelo, esbarrando o mesmo sotaque que embalou, até aqui, a forma que a gente se comunica e faz da nossa voz adubo para os ouvidos, vamos descobrimos muita estória para contar.

A memória oficial registra que nossa cidade surgiu em 1888, graças ao desbravamento de terras por fazendeiros e suas famílias europeias, como se outrora por aqui só houvesse uma mata desabitada à espera do “descobrimento”. Nada mais controverso. Precisamos falar da história que a história oficial não menciona: sobre os povos indígenas, negros e negras, mulheres que construíram nossa cidade e foram apagados (as).

Houve escravidão e violência por essas terras, mas também houve resistência. Nosso povo trabalhador resistia pela cultura, com a congada, o carnaval, o samba, formando quilombos, terreiros e irmandades nas periferias. São esses passos que marcam nossa identidade, caminhos que se cruzam no coração da nossa gente e sobrevivem ao tempo. Raízes que nutrem a alma de cada uberlandense.

Essa terra que já foi lugar dos nossos ancestrais, localização de tantos afetos e lutas, se tornou a segunda maior cidade do estado. O orgulho de carregar o sangue desse povo batalhador é o que nos faz uberlandenses. É a fé em dias melhores que nos une e nos torna uma das principais cidades do Brasil. Somos a herança daqueles sem sobrenomes nem posses. Somos frutos de um passado de resistência, sangue e suor.

Hoje, prestes a comemorarmos 133 anos oficiais, continuamos a saga daqueles e daquelas que vieram antes de nós e resistimos. Lamentamos cerca de três mil uberlandenses vitimados para Covid-19, enquanto parcela de uma elite embebecida em seus privilégios e egos condecora o presidente responsável pelo genocídio de nosso povo. Mal sabem eles que a força de nossos ancestrais nos mantém. Sabemos que Bolsonaro não nos representa, sequer seus aliados inertes a dor dos enlutados. Somos dignos de mais!

Uberlândia é lugar de todos e todas que cortam as veias dessa cidade montados em ônibus, em sonhos, numa firmeza que vai desde os capacetes do São Jorge até o bairro que tem nome do nosso estado. Somos a Uberlândia que não passa na propaganda; sobreviventes da desigualdade, fome, especulação imobiliária, grilagem de terras, segregação racial, violências.

Amar nossa cidade significa ter coragem o bastante para, assim, aqueles que vieram antes de nós, mudar uma realidade desigual. Temos história e memória, honramos o nosso passado, mas colocamos a mão na massa para erguer o nosso futuro. Fazer com que a riqueza que paira sobre essa cidade não esteja na mesa de poucos, mas de todos e todas. Dos atendentes de telemarketing às pessoas que limpam as ruas, das professoras e professores que cultivam o nosso saber aos ternos de congo que borbulham nessa cidade a nossa devoção.

Sede de justiça e vontade de fazer acontecer não nos faltam. Juntos e juntas construímos a Uberlândia das próximas décadas. Ocupando as ruas, as curvas de Niemeyer, mudando o que não está bom para daqui uns anos lembrar da nossa cidade como a Terra que tudo brota e que dá sombra para todas e todos.

“Podia falar mais, muito mais. Mas você é muito grande para mim, Minas Gerais”, já dizia Grande Otelo. E estava certo: Não cabe no papel a grandeza de ser uberlandense. Eu amo esta cidade, tenho orgulho de ter crescido aqui, estudado na UFU e hoje como vereadora poder devolver um pouco do que ela me deu, semear novas Eras, novas conquistas, novos direitos, um novo lugar. Por tempos mais justos, mais democráticos, mais livres para os nossos artistas, nossos atletas paraolímpicos, nossos profissionais da saúde, nossos cientistas, nossos trabalhadores, nosso povo.
Amar e mudar Uberlândia nos interessa mais.

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