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29/06/2021 às 08h00min - Atualizada em 29/06/2021 às 08h00min

COISAS DAS BANDEIRAS

ANTÔNIO PEREIRA
Conta José Ferreira de Freitas no seu livro “Sertão da Farinha Podre – o caminho para Goiaz e Mato Grosso”, e reproduzo com minhas palavras. Não sei se meramente ilustrativa ou verdadeira, Freitas dá até o nome do bandeirante e de alguns peões.

As primeiras bandeiras dos luso-paulistas enfiavam-se pelos sertões à caça de índios para escraviza-los. Com a descoberta do ouro, esses aventureiros começaram a esquecer do índio de olho no ouro e nas pedras preciosas que se descobriam. Organizavam-se caravanas de bom tamanho com gente experimentada no sertão porque atravessa-lo era uma aventura cheia de percalços. Serras e vales, doenças, animais peçonhentos, onças, sucuris, índios desconfiados.

Numa dessas bandeiras menores, com 50 pessoas, 20 cavalos, 10 mulas e 7 carros de bois deu-se a história.

Subiam rumo a Goiás e, quem sabe, Mato Grosso. Na travessia do rio Tijuco, aqui no nosso Triângulo, num ponto mais espraiado, conforme se prescrevia, passaram as pessoas, os cavalos e mulas e seis carros de bois. O último, lá pelo meio do rio, deu um solavanco, pendeu para um lado e parou. Não adiantava os homens gritarem, baterem, ajudarem. O carro não se movia. Não se sabia exatamente o que havia acontecido. Podia uma roda ter-se quebrado ou entrado numa loca e ficado presa. Era um leito pedregoso.

Exauridos todos os esforços, resolveram descarregar o carro para ficar mais leve. Os peões e o candeeiro tiraram tudo, tentaram de novo, nada. Resolveram tirar os bois, afinal, já estavam cansados de tanta força inútil. Amarravam uma corda nos chifres deles e o candeeiro mais um peão iam puxando, um a um. O boi naturalmente já caminha devagar, cansados, então... Tinham o candeeiro e o peão que fazer muita força.

Tiraram cinco. Foram ao último, amarraram-lhe os chifres, esticaram as cordas e os dois, de costas para o rio, foram puxando. O infeliz de bicho deve pisado de mau jeito numa pedra lascada, afiada, e arranhou o mocotó. O sangue atraiu as piranhas.

Os dois puxando, puxando, sem ver o que acontecia atrás deles, e o boi a cada passo ficava mais leve. E ia ficando mais leve, mais leve, levíssimo e eles chegaram ao chão firme. Olharam pra traz: Só havia um par de chifres e uma carcaça branca. Dentro da gaiola das costelas, ainda saltava um bando das danadas.

Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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