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26/06/2021 às 08h00min - Atualizada em 26/06/2021 às 08h00min

A vacina e a ignorância

ALEXANDRE HENRY
“Até 13 de abril, mais de 75 milhões de pessoas haviam sido completamente imunizadas nos Estados Unidos. Destas, apenas 74 morreram de Covid-19 – ou seja, menos de uma em um milhão. Enquanto isso, 1 em 579 norte-americanos morreram da doença no país entre março de 2020 e abril de 2021. Portanto, o risco de morrer de Covid é 1.725 vezes maior para quem não tomou a vacina” – relatou reportagem desta semana da Revista Piauí, com base em dados divulgados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e a Universidade John Hopkins.

No Brasil, a queda no número de óbitos de idosos, que se vacinaram primeiro, foi algo impressionante nos últimos meses. E isso porque demoramos a vacinar toda a população acima de 60 anos e boa parte dela ainda está na primeira dose.

Mesmo assim, tem gente decidida a não tomar a vacina. Eu costumo respeitar ideias divergentes, mas essa ideia é burra. Vai contra a ciência, a lei, as evidências como essas que citei, contra as outras pessoas e, principalmente, fere mortalmente o bom senso. Por que você não quer se vacinar? Por que não há evidência de que funcione? Bom, se esses números dos EUA e a queda nas mortes no Brasil entre os vacinados não forem uma prova, então, sinceramente, você é daquelas pessoas que podem encontrar o parceiro ou parceira na cama com outra pessoa, tendo uma relação íntima, e ainda assim não acreditam que estão sendo traídas. A comparação é meio tosca, eu reconheço, mas me parece bem adequada.

“Ah! Mas, fulano de tal se vacinou, contraiu COVID e morreu!” – você retruca. Sim, morreu. Ninguém disse que a vacina vai livrar toda e qualquer pessoa que se vacinou da morte. É aquela história: uma unha encravada, para mim, não é nada. Para uma pessoa que tenha diabetes com insuficiência arterial dos membros inferiores é algo extremamente perigoso. Assim como tem gente que morre por um problema que começou com uma unha encravada, tem gente que vai perder a vida mesmo com a vacina. Só que, sem vacina, é como se todo mundo tivesse diabetes com essa insuficiência arterial e, além disso, não cuidasse das unhas direito. Entendeu?

Eu posso dizer, por outro lado, que conheço gente que morreu por comer comida intoxicada, que morreu andando de carro ou de ônibus, que perdeu a vida atravessando a rua, subindo uma escada e por aí vai. Você vai parar de comer, de se deslocar ou de subir escada porque alguém morreu assim? Acho que não, né? Então, não tomar a vacina porque não funcionou em alguma pessoa, segundo aquela mensagem que você recebeu no grupo de WhatsApp, não é desculpa. Por outro lado, foram raríssimos os casos de gente que morreu depois de tomar a vacina e a maioria ainda está em estudo para saber se realmente foi por conta dela ou não. De toda sorte, o número de gente que sobreviveu depois de ter sido vacinado é infinitamente maior do que as suspeitas de óbito decorrente da vacina.

Digo mais em relação a essa ideia burra de não se vacinar: você está contribuindo para colocar a sociedade toda em risco. “Dane-se” – você diz. Bom, aí não tenho muito argumento. Se você não se importa em ser uma possível fonte de contaminação de outras pessoas ou de mutações do vírus, o problema é você, nada mais.

A ignorância não para por aí. Muita gente agora está torcendo o nariz para a vacina fabricada pelo Instituto Butantan em parceira com a Sinovac. Se há evidência de que a proteção dela contra a contaminação em si não é tão alta como o de algumas outras vacinas, não há evidência de que a diferença na proteção de casos gravíssimos e de óbitos seja relevante. O que importa é sobreviver, não é? Então tome a vacina do Butantan se ela for disponibilizada.

“Mas aí não vou poder viajar para a Europa!” – você resmunga. Quem disse que não? A Suíça acabou de liberar a entrada de brasileiros vacinados e vai aceitar a vacina da Sinovac, a mesma do Butantan e que já foi validada pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Você sabe qual nação costuma dar mais alegria financeira para destinos turísticos internacionais, por conta da quantidade de habitantes que faz essas viagens? A China. Você sabe quais vacinas são aplicadas na China? As chinesas, claro, entre elas a da Sinovac. Você acha que as grandes potências turísticas vão fechar as portas para os chineses só porque eles tomaram uma vacina que não é americana ou europeia, mas que comprovadamente funciona e foi aprovada pela OMS? Não preciso nem responder.

Enfim, não tomar vacina por não acreditar nela ou porque é fabricada pelo Butantan é, hoje, um sinal de extrema ignorância, além de ser um risco social.


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