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11/06/2021 às 17h30min - Atualizada em 11/06/2021 às 17h30min

Você tem medo de morrer?

DÉBORA OTTONI
Foto: Freewallpaper
A pandemia suscitou em nós a real possibilidade de morte, o que nos leva a um encontro com a verdade de quem temos sido ou deixado de ser, do que temos feito ou deixado de fazer. Diariamente somos estapeados pela imagem do espelho que nos lembra da nossa pobreza de espírito e do mal que permeia nossa condição e natureza humana.
 
O COVID-19 veio para nos lembrar que se não nos atentarmos, aquilo que de pior em nós habita (e em todos nós habita), tomará conta de nossa existência a ponto de sucumbirmos. A maior dificuldade enfrentada não é o medo do vírus, mas o medo de confessarmos quem realmente somos diante da morte.
 
A verdade de nossa natureza transgressora se revela quando somos tomados pela PREGUIÇA, o não cumprimento dos deveres e da postergação dos afazeres rotineiros. Quando nos acovardamos e nos escondemos atrás da máscara da preocupação com o próximo, mas na verdade é o nosso egoísmo e AVAREZA que estão gritando aos quatro cantos da nossa alma (o medo de perder o outro nem sempre é porque o amamos demais).
 
Quando somos visitados pela INVEJA que desperta a IRA, disfarçadas de prudência e zelo, pois nos incomoda demais saber que o outro não está respeitando as regras e não teme a morte como eu. Quando a ansiedade toma conta e nos confortamos através da GULA e LUXÚRIA utilizando do discurso do auto mimo pelo momento difícil que estamos vivenciando. Quando nos rendemos à VAIDADE e expomos nossa superioridade no agir, nos considerando os próprios heróis da pandemia. Poderia usar muitos mais exemplos para ilustrar nossa miséria humana e, eu e você, nos encaixaríamos em todos eles.
 
É importante usarmos estes últimos acontecidos para nos conhecermos e para lutarmos contra o que sempre assolou nossa humanidade e é mais preocupante do que o vírus: É com a morte do nosso espírito que devemos nos preocupar.
 
Já parou para pensar que um dia, uma frase definirá quem você foi e como viveu?
Uma frase! Um epitáfio...
 
Pode uma frase numa lápide resumir o que fomos e representamos para os que conviveram conosco? E aqueles que não têm o que dizer sobre o falecido? Abrem uma página de um livro qualquer ou escolhem um poema para resumir o que aquela pessoa foi? É o testamento de uma vida insignificante. Um epitáfio em branco nesse caso seria melhor!              
 
O que você tem inscrito nas almas dos que passam e passaram por sua vida? Como você será lembrado pelas pessoas que mais conviveram com você? Tem se entregado, se doado e tem sido para o outro de verdade ou quer apenas o retorno do que faz para afago do seu ego? Os seus por quês e para quês elevam a alma e o espírito dos que o cercam? O que os seus filhos, cônjuge, pais, vizinhos, familiares e amigos veem quando olham para você? Você inspira? Você atrai? Promove crescimento? Provoca desejo de mudança no outro?
 
No fim, não importam as palavras que resumirão sua biografia na lápide se, em vida, você não foi capaz de transformar em verbo a bondade, a beleza e a verdade.
 
É na vida acontecendo que grafamos nos corações daqueles que cruzam o nosso caminho as sentenças que definirão quem um dia nós fomos.
 
E se não houver o amanhã para você?
 
Poderá dizer que compreendeu que não tem o controle da vida em suas mãos e que viver consiste em ser sábio e maduro para lidar com a imprevisibilidade das coisas, adaptando-se à realidade sem temer a morte?
 
Poderá afirmar que se entregou por completo? Que mesmo errando, falhando, sendo egoísta, preguiçoso, impaciente e pessimista, tentou sempre SER e ESTAR no agora de forma íntegra (alma, pensamento e ação), desde o abrir dos olhos pela manhã até a oração da noite?
 
Se não houver amanhã, você foi quem deveria ter sido hoje, consciente da sua realidade e a que ela te conclama?
 
Quando a nossa biografia é escrita com os traços da verdade, a visita da morte não será assustadora. Será apenas uma companheira que veio encontrar aquele que não teme a eternidade, antes, a almeja noite e dia.
 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia. 
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