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14/05/2021 às 19h27min - Atualizada em 14/05/2021 às 19h27min

E as escolas? Deveriam reabrir?

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Infelizmente, o Brasil viveu, ao longo dos últimos meses, uma segunda onda da doença de disseminação da COVID muito importante! Algumas discussões políticas acabaram contribuindo para a situação de crise sanitária que atravessamos durante a pandemia da COVID. Muitos gestores públicos, e até colegas médicos, nunca aceitaram a existência da clara associação entre as medidas de isolamento social e uma taxa mais lenta de disseminação da COVID e a consequente proteção destas medidas contra o caos nos sistemas de saúde. Assim, a baixa adesão às medidas de restrição à circulação foi importante para o grande número de casos e de óbitos de brasileiros. Somos o terceiro país em número absoluto de casos da doença e o segundo em número de óbitos. Isto não é ao acaso.

A maioria dos argumentos daqueles que afirmam que as medidas de isolamento social são inefetivas para a contenção da pandemia gira em torno da tese de que o vírus só vai diminuir a sua circulação entre nós e parar de nos causar transtornos quando mais de 70% da população brasileira tiver entrado em contato com ele. Assim, as medidas restritivas pouco importariam para diminuir o número de contaminados. Elas apenas arrastariam por mais tempo a pandemia... Entretanto, este argumento não se sustenta em um cenário em que temos vacinas que poderiam nos propiciar a chamada “imunidade de rebanho” a um custo muito menor (com menos internações e óbitos em decorrência da doença). Ou seja, com a imunização em massa da população, poderíamos conseguir a chamada imunidade coletiva necessária para a contenção da pandemia, sem o excessivo número de óbitos que tivemos.

Além disso, não podemos deixar de ressaltar também a importância das medidas de isolamento que foram adotadas na maioria dos municípios e estados brasileiros para, pelo menos, diminuir o ritmo de disseminação da doença. Isto proporcionou uma situação menos dramática e caótica nos hospitais do que poderia ter ocorrido caso não houvesse um mínimo de restrição.

Mas, apesar da necessidade do distanciamento social para a tentativa de contenção do caos nos hospitais, sabemos que estas medidas restritivas são diretamente proporcionais aos danos econômicos causados à sociedade e ao dano psicológico causado às pessoas. Quanto mais restrição à circulação de gente, mais danos econômicos e mais danos psicológicos individuais... Em relação ao retorno das atividades presenciais em escolas e universidades, este custo econômico (para as escolas), e os custos psicológico e acadêmico (para os estudantes) precisam ser bem contabilizados... Nossos estudantes completaram mais de um ano fisicamente distantes de suas escolas e universidades! Quanto prejuízo acadêmico e psíquico já tiveram! Prolongar mais ainda este período seria ainda pior... Mas, por outro lado, como ainda estamos vivendo uma situação preocupante em hospitais da região, o debate está colocado! Será que é seguro a reabertura das escolas? É viável? 

Os defensores da reabertura imediata das escolas alegam que o retorno seria muito seguro para as crianças, adolescentes e jovens, pois estudos já demonstraram que indivíduos com menos de 18 anos, em geral, transmitem pouco o vírus e, mesmo que entrem em contato com o mesmo, têm pouca chance de desenvolver um quadro grave da doença. Além disso, alegam que a curva de disseminação da segunda onda já está em descenso em nossa região e que a situação de sobrecarga da rede hospitalar já foi controlada, não havendo mais necessidade de tanta restrição à circulação de crianças e adolescentes. Por fim, quem quer a reabertura imediata das escolas considera extremamente importante a retomada das aulas presenciais para a saúde psíquica dos jovens. Os danos coletivos causados pela falta de contato físico com a escola e os colegas fariam mais mal ao psíquico dos alunos do que um potencial aumento do número de casos da doença entre eles.

Mas, por outro lado, não podemos nos esquecer que o retorno das aulas neste momento seria uma ameaça não só ao ameaçar um eventual aumento do número de novos casos, como também uma ameaça direta à saúde dos profissionais que trabalham com educação (diretores, professores, funcionários da escola...). Apesar de que um eventual surto de novos casos de COVID numa determinada escola faria poucas vítimas fatais entre os alunos, não se pode garantir que os profissionais envolvidos teriam também uma evolução favorável... Em especial, aqueles portadores de comorbidades...

Minha opinião pessoal é a de que a retomada das atividades presenciais nas escolas deveria ser planejada imediatamente pelos gestores dos órgãos ligados à educação e liberada pelas autoridades competentes tão logo possível. Mas, para isso, seria importantíssimo a obediência às orientações científicas para uma tentativa de diminuir a possibilidade de novos surtos epidêmicos relacionados à volta as aulas como: preparo adequado do ambiente escolar para diminuir as aglomerações de estudantes, em especial, em ambientes mais ventilados e com circulação de ar adequadas; estímulo à lavagem frequente de mãos por alunos e professores; uso contínuo de boas máscaras por crianças com mais de 5 anos e por alunos e funcionários das escolas. Além disso, a priorização da vacinação imediata dos profissionais da educação que estariam retornando ao trabalho nas próximas semanas poderia ajudar a aumentar a segurança deste retorno não só para os profissionais que serão expostos, mas para a sociedade como um todo. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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