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06/04/2024 às 08h00min - Atualizada em 06/04/2024 às 08h00min

Terapia de reposição hormonal na menopausa: benefícios e riscos

JOÃO LUCAS O'CONNELL
À medida que as mulheres transitam pela menopausa, enfrentam uma série de sintomas que podem afetar profundamente a qualidade de vida. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) surge como um dos tratamentos mais discutidos, prometendo alívio para ondas de calor, suores noturnosk, e secura vaginal. No entanto, a decisão de iniciar a TRH não deve ser tomada de ânimo leve, dada a complexidade dos potenciais benefícios e riscos associados.

Benefícios da Terapia de Reposição Hormonal:
Estudos indicam que a TRH pode oferecer melhorias significativas em sintomas típicos da menopausa. Além do mais, evidências sugerem avanços no âmbito da libido, disposição e até na conservação da força muscular, aspectos essenciais para a manutenção da qualidade de vida. Esses benefícios, porém, devem ser avaliados individualmente, considerando a condição de saúde e expectativas de cada mulher.

Riscos Associados à TRH:
A mesma terapia que promete renovação enfrenta escrutínio por seus riscos. Pesquisas relacionaram a TRH, especialmente quando prolongada, a um aumento no risco de certos tipos de câncer, como o de mama e o endometrial. Essa informação coloca em xeque a relação custo-benefício do tratamento, exigindo uma análise cuidadosa por parte de médicos e pacientes.

Esta balança entre possíveis benefícios versus potenciais riscos relacionados a terapia de reposição hormonal são ainda bastante polêmicos… Por um lado, temos uma parte crescente da comunidade médica (muito influente em mídias sociais) que defendem, cada vez mais, uma reposição hormonal cada vez mais agressiva para esta fase da vida da mulher. Os argumentos são de que a reposição realmente aumenta a libido, a pele, promove maior longevidade e aumenta o humor, a disposição e a força muscular. Entretanto, por outro, há as Sociedades organizadas de Ginecologia, Cardiologia, Endocrinologia e oncologia  alertando e até alarmando a população em relação aos potenciais riscos relacionados a esta reposição.

Neste último mês, pra botar ainda mais fogo nesta fogueira, uma das mais importantes revistas médicas científicas do mundo (a revista “The Lancet”) publicou uma série de estudos conduzidos recentemente em conjunto com a opinião de grandes estudiosos mundiais sobre o assunto menopausa e menopausa precoce.

Os investigadores alertaram contra a “medicalização excessiva” da menopausa numa série de quatro artigos publicados na The Lancet e defenderam uma nova abordagem que vai além do tratamento de sintomas específicos.

A série se concentrou em quatro áreas para mudar a forma como vemos a menopausa - desde a adoção de um "modelo de empoderamento" pelos profissionais de saúde para apoiar as mulheres; otimização da saúde após a menopausa precoce; novos insights sobre a saúde mental das mulheres; e gerenciamento da menopausa após o câncer.

Em especial, os autores chamam a atenção para as pessoas com menopausa precoce que devem estar cientes dos potenciais riscos a longo prazo, incluindo osteoporose, fraturas ósseas e doenças cardiovasculares devido a perda da proteção hormonal e dos riscos relacionados ao potencial aumento do risco de alguns tipos de câncer quando da reposição hormonal mais vigorosa.

Garantir essa consciência de riscos para um lado e para o outro oferece uma oportunidade para uma discussão mais ampla sobre o papel fundamental dos comportamentos de saúde (por exemplo, cessação do tabagismo, dieta saudável, peso corporal saudável e exercícios) para a saúde cardiometabólica e a manutenção da densidade óssea.

Em resumo, aproximadamente 8–10% das mulheres globalmente experimentam menopausa precoce, mas as causas, história natural e potenciais resultados de saúde a longo prazo são mal compreendidos. Em particular, não está claro se a reposição hormonal confere benefícios de saúde a longo prazo para pessoas com menopausa precoce.  As informações sobre menopausa precoce são em grande parte extrapoladas a partir de evidências existentes sobre insuficiência ovariana prematura ou de estudos sobre menopausa na idade média.

Infelizmente, há evidências insuficientes para orientações atuais que recomendam THM até a idade média da menopausa (ou seja, 50 anos) e, portanto, o tratamento deve ser considerado individualmente.  A decisão pela Terapia de Reposição Hormonal deve ser fruto de uma conversa franca entre a mulher e seu médico, levando em conta seu histórico de saúde, riscos potenciais e os benefícios esperados. É importante também que essa decisão seja reavaliada periodicamente, adaptando-se às mudanças na saúde e nos objetivos de tratamento da paciente.

A TRH pode ser muito benéfica para algumas mulheres na menopausa, promovendo alívio para sintomas incômodos e uma melhora geral no bem-estar. Contudo, é crucial pesar os benefícios contra os riscos, sempre com orientação médica qualificada. Neste contexto, o autoconhecimento e uma comunicação aberta com profissionais de saúde são fundamentais para navegar as opções de tratamento, garantindo escolhas informadas e seguras.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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