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16/03/2024 às 08h00min - Atualizada em 16/03/2024 às 08h00min

Micropartículas de plástico: uma ameaça silenciosa à saúde vascular

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Na última década, a produção de plásticos no mundo tem registrado um crescimento sem precedentes, uma tendência que, segundo previsões, deve continuar até 2050. Porém, o preço desse desenvolvimento é alto, especialmente para o meio ambiente e, em última instância, para a saúde humana. Além dos conhecidos impactos ambientais, estudos recentes apontam para um novo e preocupante cenário: o papel significativo das micropartículas de plástico (MNPs) nas doenças vasculares.

As MNPs, que incluem microplásticos (partículas menores que 5 mm) e nanopartículas de plástico (menores que 1000 nanômetros), são produtos da degradação do plástico e podem ser encontradas nos mais remotos cantos do planeta. Uma vez no meio ambiente, elas são carregadas por correntes oceânicas, ventos atmosféricos e fenômenos terrestres, alcançando um alcance global. O que é ainda mais alarmante, essas partículas não se restringem ao meio ambiente externo; estudos mostraram que elas entram no corpo humano através da ingestão, inalação e até mesmo por meio de exposição cutânea.

A presença de MNPs no corpo humano não é uma novidade; pesquisas anteriores as identificaram em tecidos como a placenta, pulmões, e fígado, bem como em fluidos corpóreos incluindo leite materno, urina e sangue. No entanto, o impacto completo dessas partículas sobre a saúde ainda está sendo desvendado. Estudos sugerem que as MNPs podem ser um fator de risco emergente para doenças cardiovasculares, promovendo estresse oxidativo, inflamação, morte celular e, em modelos animais, alterações na frequência cardíaca, comprometimento da função cardíaca, fibrose miocárdica e disfunção endotelial.

Recentemente, uma pesquisa elevou o nível de preocupação ao encontrar uma ligação direta entre MNPs e riscos aumentados para a saúde vascular. No estudo, pacientes assintomáticos que passaram por remoção de placas de gordura carotídea e que tinham micropartículas de plástico presentes nas placas de gordura retiradas foram acompanhados por 34 meses. Os resultados foram preocupantes: aqueles com MNPs tiveram um risco significativamente maior de infarto do miocárdio, AVC (acidente vascular cerebral) ou morte por qualquer causa, em comparação àqueles em que as MNPs não foram detectadas.

Essa descoberta coloca as MNPs como uma ameaça silenciosa, mas potencialmente devastadora, à saúde vascular. O estudo sublinha a necessidade urgente de mais pesquisas para entender a extensão do dano que as MNPs podem causar ao sistema cardiovascular humano e ressalta a importância de políticas públicas eficazes para gerenciar e reduzir a produção de plásticos e sua subsequente degradação no ambiente.

Diante dos crescentes riscos à saúde associados às MNPs, é crucial que governos, organizações internacionais e a sociedade como um todo tomem medidas imediatas e efetivas. Isso inclui investir em alternativas sustentáveis ao plástico, promover o consumo consciente e implementar estratégias de gestão de resíduos para mitigar a liberação de plásticos no meio ambiente.

A saúde humana e a integridade do nosso planeta estão intrinsecamente ligadas. À medida que avançamos para um futuro incerto, é imprescindível que reconheçamos a urgência de agir agora para proteger ambos. As micropartículas de plástico já mostraram seu potencial impacto nocivo, e é nossa responsabilidade coletiva enfrentar esse desafio de frente, para garantir um amanhã mais saudável para as gerações futuras.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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