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01/05/2021 às 09h19min - Atualizada em 01/05/2021 às 09h19min

Quando essa pandemia acaba?

JOÃO LUCAS O'OCONNELL
A curva de disseminação do novo coronavírus no Brasil se comportou de maneiras diferente em 2020 e em 2021, única no mundo. Em 2020, observamos uma pandemia que se arrastou por todo o ano, com um pico em platô observado entre os meses de Junho e Agosto, que acabou sendo diferente do que ocorreu no restante do mundo, especialmente na Europa e na Ásia. Em boa parte dos países europeus, a curva de disseminação em 2020 teve uma fase de rápida expansão, atingindo milhares de pacientes muito rapidamente, levando ao caos nos hospitais e à morte de milhares de pessoas simultaneamente. Com este rápido alastramento, a maioria dos países adotou medidas muito sérias e fortes de isolamento social. Comércios e indústrias foram fechados, o transporte público foi suspenso, ruas foram cercadas e vigiadas pela polícia e a circulação de pessoas pelas cidades foi controlada por várias semanas. Estas medidas de “lockdown” acabaram limitando a expansão da disseminação do vírus e as curvas de novos casos e óbitos sofreram grande queda a partir das medidas de restrição. A primeira onda da pandemia durou pouco tempo por lá, mas levou a um caos importante na saúde de vários países.

Já, no Brasil, por suas dimensões continentais e por uma série de diferentes motivos (culturais, educacionais, econômicos, estruturais, políticas e outros...), a curva de disseminação se comportou de modo bastante diferente ano passado. Como o isolamento social da população começou antes mesmo que o vírus chegasse a uma boa parte dos Estados e municípios, a curva de disseminação da doença foi muito lenta e progressiva, tendo se dado ao longo de vários meses... Este tão desejado “achatamento da curva de disseminação da doença” trouxe inúmeras vantagens como, por exemplo, evitar o caos por falta de leitos, medicamentos, oxigênio e respiradores nos hospitais, pelo alto número simultâneo de novos casos da doença.

Entretanto, em 2021, com a disseminação de variantes mais transmissíveis do vírus e a nossa incapacidade em adotarmos o isolamento social necessário para a contenção mais efetiva da pandemia, a doença acabou se espalhando de uma maneira mais agressiva pelo país. Nesta segunda onda de disseminação da COVID, acabamos observando o pico clássico de rápida disseminação, como visto em muitos outros países no ano passado. Mas, e agora que atingimos o pico de disseminação da doença, o que esperar mais desta segunda onda da pandemia? Ela vai terminar? Quando ela vai terminar? Como ela vai terminar?

Infelizmente, a pandemia da COVID já nos ensinou que não respeita muito previsões. Não se pode prever exatamente quando a pandemia vai terminar. Isto porque este vírus tem uma capacidade de se transformar e de mutar para formas, no mínimo, mais transmissíveis... Por exemplo, se não fosse as novas variantes surgidas em Manaus, na Inglaterra e na África, que acabaram chegando por aqui, não teríamos tido uma segunda onda tão rápida e preocupante como a que tivemos por aqui nos últimos meses. Assim, fica difícil prever que a pior fase da pandemia já passou, que veremos os números só caindo daqui pra frente, pois, eventualmente, poderemos ser surpreendidos por uma nova variante mais transmissível e agressiva do vírus nos próximos meses...

Mas, se nenhuma outra variante de preocupação surgir nos próximos meses, teremos sim motivos para comemorar. Sabemos que uma pandemia passa a ser controlável quando uma boa parte da população susceptível (que poderia desenvolver a doença) gera uma imunidade contra o vírus. Esta imunidade pode ser garantida de duas maneiras. 1-  pelo reconhecimento celular: as próprias células de defesa do organismo já reconhecem o vírus e o destroem; 2-  pelo reconhecimento humoral: onde a defesa do organismo contra o vírus é baseada na produção de anticorpos que vão impedir a sua multiplicação. Estas imunidades podem ser dadas tanto pelo contato prévio com o vírus quanto pela exposição a vacinas.

Um grande problema com o SARS-COV2 é que não sabemos estimar, ao certo, quantas pessoas desenvolveram esta imunidade pelo contato prévio com o vírus pois não há como contabilizar estes pacientes. Nós não sabemos quem e quantos eles são. Acredita-se que, pelo menos nos grandes centros, uma boa parte da população (30-50%) já tenha tido contato com o vírus desenvolvendo uma infecção sintomática ou assintomática.  Se isto for real, se 30 a 50% da população forem vacinados, estaríamos próximos de atingirmos 60-70% da população com imunidade contra o vírus e, consequentemente, próximos de atingirmos a chamada imunidade de rebanho (aquela que garantiria um bom controle da pandemia). Mesmo que parte destes pacientes coincida (indivíduos que tiveram a doença e também foram vacinados), acredito que com 30-50% da população vacinada, poderíamos desacelerar bastante o ritmo de contágio.

Por tudo isso, a maioria dos médicos e cientistas tem a certeza de que a grande esperança de controle definitivo da pandemia seria com a vacinação efetiva da maioria da população. É o que fez com que a grande maioria das outras epidemias por vírus fossem controladas até aqui (sarampo, caxumba, rubéola, difteria, poliomielite e outras). Sejamos otimistas! Teremos mais poucas semanas de contágio mais importante da população e, após isso, os números de novos casos e de óbitos diários irão começar a cair progressivamente nas próximas semanas. Se não houver o surgimento de outra variante que consiga driblar a imunidade adquirida pelo contato prévio com o vírus ou com a vacina, a pandemia vai diminuir drasticamente no segundo semestre do ano! Com isso, nossa rotina vai voltar gradativamente ao normal. Até lá, temos que continuar evitando aglomerações, utilizando boas máscaras, lavando bem as mãos e rezando pela vacinação em massa da população. Na próxima semana, falaremos sobre as vacinas contra a COVID.
 


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