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10/04/2021 às 15h57min - Atualizada em 10/04/2021 às 15h57min

Eu também quero falar do cabelo do João

DÉBORA OTTONI
Divulgação
A polêmica do BBB sobre o cabelo do João é um retrato nítido da nossa geração: indivíduos extremamente enfraquecidos e incapazes de lidar com a dor. Não vou entrar no mérito das interpretações deturpadas do fato, mas, se hoje, chegamos ao ponto de presenciarmos a cena de um homem adulto chorando em rede nacional porque falaram do seu cabelo é porque existe um real menosprezo em nossa sociedade de abordar a necessidade de sermos fortes e maduros a ponto de não condicionarmos o nosso bem estar emocional a partir da aceitação do outro. 

No meu último texto, falei sobre a atual dificuldade dos indivíduos se portarem como adultos e desprenderem-se do papel de criança para, então, amadurecer. São sujeitos infantis, que exigem do outro compreensão e aceitação, incondicional, de suas ações e do modo de ser. Quando isso não acontece, se armam com revolta, choro e birra.

A cada dia que passa, em nosso sistema, surgem mecanismos que reforçam essa imaturidade e fraqueza dos indivíduos. Um dos exemplos recentes que comprova o quão enfraquecida está nossa geração é o do Instagram que tirou a visualização dos likes e justificou a iniciativa com o seguinte pretexto: “diminuir a competitividade por likes e por existir uma crescente preocupação da contagem de curtidas estar ligada, de forma relativa, à saúde mental dos usuários.”

O aplicativo precisou se adaptar às desordens emocionais advindas da imaturidade de nossos tempos. Chegamos ao extremo absurdo de as pessoas precisarem de uma ferramenta de "controle" de aceitação. Assim, elas estão sendo ensinadas a rejeitar que a diferença, a competitividade, a predileção, a comparação e a disputa fazem parte da vida real, quando na verdade deveriam estar aprendendo a serem fortes para lidar com a rejeição e maduras para não paralisarem por se sentirem comparadas.

Se o indivíduo não consegue aceitar que tem debilidades e é inferior aos outros em várias questões, e ainda precisa ser poupado disso, ele nunca será forte o suficiente para encarar a vida REAL. Será um vitimista e a culpa do seu fracasso será sempre do outro, pois acha injusto não ser acolhido por sua fraqueza. O indivíduo forte e maduro não precisa ser poupado de nada!

A repercussão do ocorrido no BBB constata que estamos sendo tolhidos de lidar com a REALIDADE da vida: rejeição, dor, sofrimento, derrota, tristeza, humilhação e críticas. Nenhum ser humano está ileso de passar por isso. A pessoa que se permite enfraquecer por uma crítica ainda não compreendeu que esse sentimento não passa de uma condição emocional que está totalmente relacionada à autorreferência (como o outro me vê e se sente em relação a mim), ou seja, imaturidade extrema.

Sabe por que as pessoas têm tanta necessidade de serem aceitas e amadas por todos o tempo todo? Por que dependem tanto dos elogios e aprovação do outro para se sentirem feliz?

Porque fomos educados para acreditar que o mundo é obrigado a nos aceitar como somos, que ninguém pode ser melhor do que ninguém e todos são iguais. Esse tipo de pensamento utópico nos infantiliza, nos torna carentes e vitimistas.

A rejeição, a reprovação, o desprezo e as críticas sempre existirão. Cabe a nós usarmos de nossa honestidade moral e intelectual para saber utilizar o mal, a dor e o sofrimento a nosso favor, de forma sensata, fazendo um juízo real, proporcional e justo sobre cada contexto. Isso é ser maduro.

Não tem nada mais lamentável do que uma personalidade fraca. Como bem dizia Aristóteles: "Há apenas uma maneira de não receber críticas: não faça nada, não diga nada, não seja nada."  Traduzindo: “Não exista, assim, não sofrerá!”.

Saia da camada infantil e se torne maduro. SEJA, mas seja de verdade, buscando imprimir em sua personalidade virtudes inegociáveis como a força. E então, verá algo incrível acontecer: as pessoas irão se inspirar e aproximar de você por admiração, e não por pena da sua condição de coitado!
 


Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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