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13/03/2021 às 08h47min - Atualizada em 13/03/2021 às 08h47min

Síndrome de genialidade

IARA BERNARDES
Pixabay
Estamos vivendo tempos difíceis, eu sei e sei que você também sabe. Ahhhh, você pensou que estou falando da pandemia? Imagina!! Isso aí é fichinha perto de uma geração de sabichões, de pessoas que insistem em viver na ilusão de que tudo sabem e são pressionadas a se posicionar com postura ereta de detentores do saber, temendo, inconscientemente, serem banidos de seus grupinhos convencionais por simplesmente admitirem sua ignorância.
 
Mas aí você me fala: se eu não discorrer sobre tudo que me é colocado na mesa, como as pessoas gostarão de mim? Será que vão me achar “burro”? Vou passar vergonha!
 
Meus caros... passar vergonha é estar fadado a falar o que não se sabe e se manter preso numa bolha de conhecimento inexistente, pois é impossível até para um grande sábio saber tudo. Na verdade, a maior virtude dos verdadeiros sábios é reconhecer o tamanho de sua ignorância e dar voz e seus ouvidos àqueles que entendem daquilo que se fala.
 
Não pensem que eu não estava presa a essa armadilha, pois fiquei nela por muitos anos, necessitando saber e mostrar ao mundo o quanto eu sabia, num movimento desesperado e insano de reforçar, a cada um que me aparecia, o tamanho da minha inteligência. Estava pronta a discorrer sobre qualquer assunto e a falar qualquer besteira que me parecia conveniente a fim de ser admirada pela quantidade de assuntos que, supostamente, dominava.
 
Várias foram às vezes que falei besteira sobre política, ciência e, admito, a minha área de atuação: educação. Recentemente me peguei toda eloquente versando sobre vacinas e imunizantes, até que minha irmã - Mestre em Imunologia e Doutora em Ciências Farmacêuticas, além de ser a pessoa mais estudiosa e inteligente que eu conheço nessa vida – deu-me um puxão tão forte pra realidade que minha ficha caiu e eu pensei: BURRAAAAA!!!! Para de se achar a nova Marie Curie e escuta. Foi então que abri bem meus ouvidos e cabeça pra entender que estava sendo manipulada por um grupo de pessoas que, assim como eu, não entendia absolutamente nada desse e tantos outros assuntos.
 
Com isso, passei a repassar as ocasiões em que me coloquei tão inteligente e superior, sendo que poderia simplesmente ter me calado e ouvido o outro, a visão de quem talvez saiba tanto ou menos que eu, mas que pensa diferente e pode fazer meus olhos se abrirem para coisas que não via antes.
 
Não sugiro aqui, de maneira alguma, que você abaixe sua cabeça diante de inverdades ou falácias absurdas, afinal deixar que tanta besteira seja despejada de maneira convincente, também o torna cúmplice na propagação da ignorância humana. No entanto, te convido a refletir antes de falar e ao ouvir, pondere realmente o que realmente faz sentido, se mantendo aberto à possibilidade de concordar com algo que não seja exatamente aquilo que você pensava. E mais, reflita o quanto vale a pena falar sobre aquilo que realmente saiba, algumas pessoas estão disposta a simplesmente falar e falar, entupindo nossos ouvidos e caixas de mensagem com absurdos óbvios, apenas pela necessidade de serem ouvidos.
 
Além disso, perceba algo interessante que nos faz sempre reforçar as nossas convicções: quando você pesquisa algo na internet, ou mesmo fala perto do celular sobre determinados assuntos, sua timeline das redes sociais, bem como e-mails e sugestões dos navegadores te bombardeiam com aquele assunto, sempre de maneira repetida, sem alteração de pontos de vista, empurrando-lhe a se manter na mesmice, reforçando sua ótica viciada, enraizando sempre e sempre aquele panorama conhecido por você, te colocando como depositário do saber, sem contestar seus “argumentos”. E te digo mais, isso já foi exposto em documentários como “O Dilema das Redes”, disponível na rede Netflix. E foi exatamente por perceber esse movimento, que fiz questão de assistir a esse filme revelador, logo, indico fortemente que o assista também.
 
Então, para encerrar, o que te peço é que pare de se achar o senhor ou a senhora sabe tudo e comece a ouvir quem realmente entende. Se cale quando não dominar um assunto, abra a boca para argumentar quando tiver certeza que seus conhecimentos são realmente relevantes àquelas pessoas. Não sabe sobre a vacina, não fale! Não sabe sobre o investimento da saúde, não fale! Não sabe sobre leis, shhhhhh! Não sabe nada de política, não fale! Não sabe sobre educação, se cale! E mais que isso, aprenda a ouvir, converse com pessoas ponderadas, em quem você pode confiar seus ouvidos e seus miolos, para estes deixem de ser moles.
Jabá ALERT: siga essa escritora nas redes socias - @maternidadenostres. (hahahahahahahaha)


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