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02/03/2021 às 08h10min - Atualizada em 02/03/2021 às 08h10min

A parada das mercadorias

ANTÔNIO PEREIRA
Dos meados do século XIX pra frente, a boa terra do Sudoeste Goiano começou a produzir tanto que sobrava muita coisa após o consumo da população local. Não havia como vender esse excesso em Goiás, já que a região mais habitada era o Sudoeste. O que fazer? Trazer para o Triângulo onde havia cidades mais populosas com a vantagem de que, a partir de 1889 chegaram a Uberaba os trilhos da Mogiana.
 
Da região de Jataí, Rio Verde, Santa Helena, Mineiros vinham os carros de bois com arroz, feijão, milho, banha, algodão, borracha, couro de boi etc de preferência para as cidades às margens da ferrovia. Na verdade, as cidades triangulinas também produziam isso, mas as cidades na beirada da estrada de ferro, principalmente Uberaba e Araguari, ficavam com tudo porque os compradores paulistas e cariocas adquiriam tudo para suas indústrias e despachavam pela Mogiana.
 
Esses produtores não vendiam sua produção diretamente aos compradores das indústrias. Trocavam por querosene, sal, arame farpado, ferramentas, armas e munições, utensílios domésticos, tecidos etc. com os comerciantes locais que, depois, repassavam àqueles compradores. Esses produtos industrializados subiam pela Mogiana vindos de São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, porque tanto aqui quanto em Goiás não havia indústrias e eram vendidos aos comerciantes das cidades da linha da estrada de ferro.
 
Com a construção da ponte Afonso Pena, em Itumbiara, em 1909, setenta por cento da produção goiana era encaminhada a ela para atravessar o Rio Paranaíba, eis que em todo o sul goiano, que é cercado totalmente por rios e não havia outra ponte. A travessia dos rios era feita em balsas ridículas onde não cabia ao menos um carro de boi. O carreiro tinha que pôr o carro na balsa, tirar os bois, atravessa-los a nado, com o risco de algum morrer afogado ou devorado pelas piranhas. Na outra margem, montar de novo o carro e seguir viagem. Era um sacrifício. Com a ponte Afonso Pena era chegar e atravessar sem risco, depressa e sem custo.
 
Em 1912, Fernando Vilela inaugurou o primeiro trecho de sua rodovia que demandava a ponte Afonso Pena, onde chegou em 1917. A partir desse ano, toda a produção do Sudoeste goiano que se dirigia à ponte Afonso Pena, como já era desde 1909, atravessando-a, pegava a estrada do Fernando Vilela, rumo a Uberabinha. Deixaram de procurar Araguari e Uberaba, porque Uberabinha, apesar de estar ao lado da Mogiana, era mais perto e a única cidade ferroviária que possuía uma estrada para caminhões. Uberaba e Araguari não tinham estradas para veículos automotores. Uberaba tinha, sem a profundidade da estrada do Fernando Vilela.
 
A consequência disso foi que toda mercadoria industrializada que subia do Sul com destino ao Brasil Central, enviada pela Mogiana (único caminho) era descarregada em Uberabinha e aqui ficava em armazéns particulares, para o escambo com os produtores goianos, quando eles chegassem. Da mesma forma, toda produção primária goiana visando indiretamente as indústrias do Sul, chegava em caminhões ou carros de bois ou tropas de mulas, diretamente para Uberabinha onde ficava armazenada até os compradores do Sul chegarem.
 
Uberabinha se transformou num depósito do Sul do país e do Sudoeste Goiano e isso lhe proporcionou uma indiscutível vocação para o comércio atacado distribuidor que a fez a maior na América Latina, nessa atividade.



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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