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30/01/2021 às 08h30min - Atualizada em 30/01/2021 às 08h30min

Cansei, vou falar!!!

IARA BERNARDES
Pixabay
Hoje, eu vou falar sem ressalvas, sem tentar me colocar neutra num assunto tão polêmico, eu só vou falar, como está escrito em todas as edições dos meus textos, essa é minha opinião, de minha responsabilidade e convido as pessoas de bom senso a pensarem com lucidez e mente aberta às minhas palavras.

Sou professora há 18 anos, já rodei salas de educação infantil, fundamental 1 e 2, sou coordenadora escolar, mas, principalmente, sou MÃE! Não vou falar contra a minha classe profissional, no entanto, preciso me expressar como pessoa que observa as emoções dos meus filhos e das crianças ao redor, que olha com cuidado o comportamento humano e digo: PRECISAMOS VOLTAR ESSAS CRIANÇAS ÀS ESCOLAS!

Aí você me pergunta: mas você trabalha com crianças de 3 a 14 anos, não tem medo de ficar doente? Seus filhos vão estar expostos, e se eles pegarem uma doença? Sim! Eu tenho medo! Tenho medo de eu ficar doente! Medo de meus filhos adoecerem! Tristeza por saber que eles vão parar de conviver com os avós, por medo de que estes também fiquem doentes. EU TENHO MEDO DA COVID-19!!!!!

Mas eu tenho medos maiores: de continuar vendo as crises de ansiedade da minha filha, por querer muito brincar com seus colegas e amigos; de que meu filho esqueça como é brincar com garotos da idade dele; medo de que meu pequeno rapaz tenha que continuar fingindo que o melhor amigo está com ele nas brincadeiras; de que minha filha mais velha não tenha outras amigas por não poder construir essa relação tão especial na idade dela. Tenho medo das escolas que estão falindo e dos profissionais da educação, porteiros, faxineiras e funcionários administrativos que estão perdendo o emprego.

Sabe do que mais eu tenho medo? Das crianças em situação de risco que, por não terem sua principal rede de proteção disponível - a ESCOLA -, estão sendo abusadas e agredidas diariamente. Tenho medo de que meus alunos que estão vendo as bocas de fumo lotadas em suas ruas cedam ao tráfico de drogas para poder colocar comida dentro de casa, ou até mesmo para matar o tempo livre fora das salas de aula. Tenho medo também, assim como vocês, mas tenho algo que se chama bom senso gritando dentro de mim!

É muito fácil exigirmos escolas fechadas enquanto recebemos nossos salários sem precisar nos preocupar se mês que vem meu posto de trabalho não mais existirá. Além disso, me digam, como é mesmo que a mãe de família trabalha se não tem a creche para deixar seu filho? Ahh, ela se vira, paga escola clandestina ou deixa o filho na casa da vizinha, aquela vizinha mesmo, que cuida dos próprios filhos e do pai acamado, naquela casa com um entra e sai de gente que ninguém sabe quem pode “cuidar” do filho dela.

Essa semana, com a liberação do retorno presencial às aulas, ouvi cada atrocidade que me deu vontade de vomitar: mãe exigindo cada absurdo das escolas para garantir a segurança do filho, enquanto a bonita desfilou com a criança pelo shopping absolutamente todos os dias dos últimos 5 meses, sem máscara, inclusive.  Teve também o pai que exigiu que seu filho não faça parte do rodízio para garantir a lotação máxima de 50% exigida pelo protocolo, com a justificativa de que não suporta mais a criança dentro de casa. A propósito, a criança que ele ajudou a fazer.

Então, sim, eu vou meter o pé na jaca e assumir tudo isso que eu escrevi, porque o que falta é respeito, compaixão e amor pelo próximo, pelo bem próximo, porque, afinal de contas, quem não consegue suportar o próprio filho, meus queridos, algo não está certo aí e provavelmente não é o temperamento da criança, mas a falta de limites e educação que deveria ser provida pela família.

No começo da pandemia eu tinha fé de que as pessoas iriam começar a pensar diferente, mas agora estou acreditando mesmo é que algumas pessoas não têm jeito, por isso, só me resta rezar mesmo para que meus filhos saibam conviver com essa leva de gente mesquinha que está vindo aí, pois com pais desse jeito, duvido que muito reste para nosso futuro.


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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